Por Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ
Salvador, Bahia – Nos dias 30 e 31 de maio de 2024, a capital baiana se transformou no epicentro da resistência ancestral e da força feminina quando recebeu o V Encontro Nacional de Mulheres de Axé da Rede Nacional das Mulheres de Axé (Renafro). Com o tema central “É Tempo de Axé, Resistência e Luta!”, o evento reuniu Iyálorixás, ebás, filhas e filhos de santo, ativistas e defensoras dos direitos humanos de todo o Brasil, para discutir e propor soluções para os desafios que afligem não apenas as comunidades religiosas afro-brasileiras, mas toda a sociedade.
Mais do que um encontro, foi uma poderosa manifestação de unidade, sabedoria e coragem diante de um cenário marcado pelo aumento do racismo religioso, pela violência contra os territórios sagrados, pela crise climática e pela retirada de direitos fundamentais. As mulheres de axé, guardiãs das tradições ancestrais, assumiram com orgulho e determinação seu papel histórico como agentes de transformação social e espiritual.
O Matriarcado Ancestral na Linha de Frente
O V Encontro evidenciou a importância do matriarcado ancestral como fonte de resistência cultural e política. Diante de um país onde o racismo religioso ainda persiste de forma violenta e institucionalizada, e onde os terreiros são frequentemente alvos de intolerância e criminalização, as mulheres de axé ocuparam o espaço público não apenas como representantes de uma religião, mas como vozes autoritativas em defesa da democracia, dos direitos humanos, da justiça climática e da dignidade dos povos tradicionais.
Em pauta, estiveram temas urgentes como o racismo religioso e ambiental, a segurança alimentar para os povos tradicionais de terreiros e de Matrizes Africana, a defesa dos territórios sagrados ameaçados por mineradoras e grandes empreendimentos, o direito à saúde e educação com respeito às culturas afro-brasileiras, além da necessidade de políticas públicas afirmativas que garantam visibilidade e proteção a essas comunidades.
Brasília e Territórios Presentes com Força
A representatividade do Centro-Oeste foi marcada pela presença de diversas Iyálorixás de Candomblé e Umbanda, coordenadas por Mãe Baiana de Oyá, responsável pela articulação regional dentro da Renafro. Sua liderança tem sido fundamental para ampliar o alcance político e espiritual da rede, especialmente em contextos onde o avanço de projetos conservadores e neoliberais ameaça diretamente os direitos das comunidades de matriz africana
A participação de Mãe Vilcilene de Jagun, Mãe Zenith, Mãe Fabíola. Mãe Carla de Oyá que participam das MULHERES DE AXÉ de BRASÍLIA E TERRITÓRIOS destacou a dimensão nacional do movimento e reforçou a necessidade de construção de alianças entre terreiros, movimentos sociais, parlamentares progressistas e organizações da sociedade civil. Ficou claro que a luta das mulheres de axé não é isolada, mas parte de um front mais amplo por justiça social e ambiental.
Axé como Fonte de Sabedoria e Esperança
Ao longo dos dois dias de debates, rodas de conversa, grupos de trabalho e celebrações, ficou evidente que o axé não é apenas energia divina, mas também ferramenta de organização, cura e mobilização. Em meio ao caos social e ambiental que assombra o país, as mulheres de axé apresentaram-se como sujeitas coletivas capazes de tecer redes de solidariedade, preservar conhecimentos ancestrais e propor alternativas sustentáveis e comunitárias para os problemas contemporâneos.
Este encontro não foi apenas um momento de reflexão, mas de ação política consciente. Mostrou que as mulheres de axé não estão dispostas a aceitar passivamente a perseguição, a invisibilidade ou o descaso. Pelo contrário, estão cada vez mais firmes na construção de uma sociedade mais justa, plural e equilibrada — onde a vida, em todas suas formas, seja respeitada.
Conclusão: A Luta Continua
O V Encontro Nacional de Mulheres de Axé da Renafro deixou um legado de resistência e esperança. Ao reunir tantas vozes femininas em torno de causas comuns, reafirmou o poder coletivo das guardiãs da memória ancestral. Não há dúvida de que o caminho será longo e cheio de obstáculos, mas a força simbólica e política dessas mulheres demonstra que a luta está apenas começando — e que ela será travada com axé, coragem e determinação.
É tempo de axé, resistência e luta!
E enquanto houver mulheres negras, mães de santo e guerreiras ancestrais carregando nas costas a história de um povo, haverá sempre esperança de um futuro mais justo e fraterno.
Que os orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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