Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/ PROJETO ONÍBODÊ
ÁGUAS LINDAS DE GOIÁS, 11 de Outubro de 2025 – O solo sagrado tremeu. Não foi um tremor geológico, mas um abalo ancestral, um eco vindo diretamente de Oyó que encontrou solo fértil no coração do Cerrado. Na tarde deste sábado, sob um sol que abençoou a cerimônia, o Ilê Ase Iná Ojú Obá Óyó abriu suas portas, e com elas, abriu-se um novo capítulo de resistência, acolhimento e axé na região. Mais do que a inauguração de um templo, foi a coroação de um ato de coragem.
A casa, que em yorubá significa “A Casa do Fogo do Senhor Rei de Oyó”, é liderada pela Mãe Kynalunguê (Mãe Laliana Alho), uma sacerdotisa cujo olhar sereno carrega a força de gerações. Ela, junto com seus filhos e filhas de santo, recebeu a todos não como espectadores, mas como parte de uma grande família extensa, num carinho que se manifestava num abraço, num sorriso. O axé, a força vital, não era um conceito abstrato; era palpável, um calor que envolvia cada canto do espaço, uma positividade que lavava a alma das atribulações do mundo lá fora.
Os presentes testemunharam o que as comunidades de matriz africana sabem, mas que o mundo insiste em ignorar: estes espaços são portos seguros. São lugares onde a palavra de conforto vira um bálsamo, onde o apoio na luta contra as injustiças se transforma em estratégia coletiva, e onde o acolhimento não é um slogan, mas uma prática diária e real. Em um país onde a intolerância religiosa mostra suas garras com frequência cruel, respirar a liberdade daquele terreiro era, em si, um ato revolucionário.
E então, o ápice. O momento em que a emoção, contida até então em sorrisos e lágrimas discretas, transbordou. A comitiva do Rei de Oyó adentrou o ESPAÇO SAGRADO. Os atabaques falaram uma linguagem mais antiga que qualquer idioma. O ritmo, firme e solene, era o próprio pulsar do coração de Xangô. A energia mudou, o ar ficou denso, carregado de uma presença majestosa e justiceira. Não era apenas uma performance; era a chegada do próprio Orixá, daquele que é senhor da justiça, da política e do fogo transformador. A cerimônia foi conduzida por Pai Ricardo de Oxóssi com a participação de seus filhos que foram dar o abraço e participar das funções da nova casa da Famíllia do Ilê Axé Odé Erinlé e também com a presença de Pai Alan Baloni (avô de Mãe Laliane) e seus filhos
Naquele instante, todos – iniciados e não-iniciados – foram envolvidos por uma onda de amor e esperança. Era a sensação tangível de que, apesar dos ataques diários, dos momentos difíceis que assolam nossa comunidade, nós resistimos. A abertura daquele Ilê é muito mais que uma conquista local; é um farol. Um clarão no escuro que anuncia: “Permanecemos aqui. Cultuamos nossos ancestrais aqui. E, apesar de tantos quererem nos silenciar, nossa voz ecoará através dos tambores”.
O Ilê Ase Iná Ojú Obá Óyó não é apenas uma casa de Xangô. É uma trincheira de cultura, um hospital da alma, uma escola de ancestralidade. Cada canto abençoado, cada folha sagrada, cada toque do rum, rumpi e lé é um grito de existência.
A tarde terminou, mas o toque do rei continua ecoando. Ele ressoa como um lembrete poderoso, um juramento feito à sociedade: O AXÉ SEMPRE PREVALESCERÁ E RESISTIRÁ CONTRA O RACISMO RELIGIOSO E SUAS MAZELAS. E em Águas Lindas, um novo fogo foi aceso, e sua chama, alimentada pela fé de um povo que não se cala, promete iluminar por muitas gerações. Um dia, sem dúvida, para ficar guardado para sempre em nossa memória afetiva e em nossa história de luta.
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Xangô Vive
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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