Por: Ògan Assogbá Luiz Alves
Brasília, 25 de agosto de 2025 – Em um gesto carregado de simbolismo histórico e cultural, o Palácio do Planalto recebeu, nesta quinta-feira, a visita de Estado do Presidente da República da Nigéria, Sua Excelência Bola Ahmed Tinubu, recebido com honras de chefe de Estado pelo Presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva. O encontro, marcado por protocolos solenes e diálogos estratégicos, teve um momento de profunda ressonância simbólica com a presença das integrantes do Coletivo das Iyás/RENAFRO-Centro-Oeste, representantes vivas da ancestralidade africana que atravessou o Atlântico e se firmou no solo brasileiro.
A cerimônia teve início com a tradicional subida da rampa do Palácio do Planalto, onde o Presidente nigeriano foi saudado com calor por Lula, em um aperto de mãos que ecoou como um abraço entre irmãos de um mesmo tronco histórico. Vestido com trajes tradicionais nigerianos, Tinubu desfilou ao lado de Lula, que usava terno escuro e gravata verde e amarela, em direção ao Parlatório, onde as tropas militares do Exército Brasileiro realizaram um desfile em honra ao chefe de Estado convidado — um gesto de respeito institucional que, neste contexto, ganhou contornos de reconhecimento mútuo entre nações irmãs.
Após a revista às tropas, os líderes se reuniram em caráter privado no interior do Palácio. Em sua fala posterior ao encontro, o Presidente Lula destacou a urgência de fortalecer as relações comerciais entre Brasil e Nigéria, dois gigantes do hemisfério sul com potencial estratégico em áreas como agricultura, energia, indústria e tecnologia. “A Nigéria é um dos maiores parceiros naturais do Brasil na África. Temos raízes comuns, temos história compartilhada, e agora precisamos construir um futuro comum”, afirmou Lula, reafirmando seu compromisso com o multilateralismo como caminho para a paz e o desenvolvimento global.
Mas foi no almoço de boas-vindas, servido em clima de cordialidade diplomática, que o evento tocou o âmago da memória afro-brasileira. Pela primeira vez em uma cerimônia oficial de Estado no Planalto, integrantes do Coletivo das Iyás/RENAFRO-Centro-Oeste foram convidadas a participar como representantes da espiritualidade e da cultura afrodescendente no Brasil. Vestidas com roupas tradicionais —, as Iyás (mães espirituais de terreiros de matrizes africana) ocuparam um lugar de honra entre autoridades brasileiras e nigerianas.A presença delas não foi mero detalhe protocolar. Foi um ato político e simbólico de reparação histórica. As Iyás representam a continuidade viva das tradições religiosas iorubás, que sobreviveram à escravidão, à perseguição e ao esquecimento imposto pela colonização. Hoje, são guardiãs de saberes ancestrais, curandeiras, líderes comunitárias e defensoras dos direitos dos povos de terreiro. Sua presença ao lado do Presidente da Nigéria — um homem cujo sobrenome, Tinubu, tem raízes iorubás e cuja linhagem é ligada à antiga cidade de Abeokuta — fez ecoar, em silêncio eloquente, a jornada de milhões de africanos arrancados de suas terras e forçados a cruzar o Atlântico.
“É um momento de emoção profunda”, disse uma das representantes do coletivo presente. “Ver um presidente nigeriano sendo recebido com respeito aqui, e nós, mães de santo, sentadas à mesma mesa, é um sinal de que nossas raízes estão sendo respeitadas. Nós somos a Nigéria que ficou, a Nigéria que resistiu, a Nigéria que rezou e que nunca esqueceu.”
A RENAFRO (Rede Nacional de Afro-Religiões), por meio de seu núcleo Centro-Oeste, tem atuado com força na defesa dos direitos das religiões de matriz africana, combatendo o racismo religioso e promovendo políticas de inclusão. A convocação para este evento histórico é vista como um reconhecimento institucional dessas lutas.
O encontro entre Lula e Tinubu vai além da diplomacia econômica. Ele toca na memória coletiva de um povo. Segundo dados históricos, cerca de 40% dos africanos trazidos à força para o Brasil durante o período colonial eram provenientes da região que hoje corresponde à Nigéria, sobretudo do povo iorubá. É desse povo que também vêm as bases do candomblé, da umbanda, do vocabulário, da culinária, da música e da espiritualidade que hoje fazem parte do DNA brasileiro.
Com este gesto, o governo brasileiro não apenas fortalece laços diplomáticos, mas **reconhece publicamente a dívida histórica com a África** — e, sobretudo, com as comunidades afro-brasileiras que mantiveram vivas as tradições africanas contra todos os ventos.
Ao final do almoço, enquanto os líderes trocavam presentes — entre eles, uma peça de arte iorubá e um quadro com motivos do cerrado brasileiro —, uma Iyá fez uma breve oração em iorubá, pedindo proteção para os dois países e harmonia entre os povos. Um momento breve, mas carregado de poder: a ancestralidade abençoando o futuro.
Entre acordos comerciais e discursos de cooperação, o que mais tocou o coração do povo brasileiro foi ver mães de santo, herdeiras da Nigéria ancestral, sentadas à mesa do poder. Um encontro de Estados, sim. Mas, acima de tudo, um encontro de almas.
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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