Por: Ògan Assogbá Luiz Alves
Brasília, DF – Num domingo marcado por energia ancestral, lágrimas de reconhecimento e tambores que ecoavam como batidas do coração da África, o Templo Ifá Ajé, sob a liderança espiritual de Babá Boro (Pai Ricaule), um dos grandes percussores do Ifá em Brasília, tornou-se epicentro de um dos momentos mais simbólicos e empoderadores da história da diáspora africana no Brasil. Na tarde do último sábado, a missão oficial nigeriana composta por Ajoyemi Osunleye, Embaixador de Sua Majestade Imperial Ooni de Ifé e representante do Fórum Africano da Diáspora, e Otunba Bopdun Ajiboye, Secretário Executivo do Instituto Nacional de Orientação Cultural (NICO) da Nigéria, foi recebida com honras de realeza, num encontro que transcendeu o ritual e tocou o âmago da identidade negra.
A casa, banhada pela energia Ancestral, pulsava com a força dos Orixás. Família espiritual e carnal de Babá Boro se uniram num círculo de acolhimento que não era apenas de cordialidade, mas de reencontro – o reencontro de um povo desenraizado com sua fonte primordial.
"Sejam bem-vindos à casa do Orixá, à casa da verdade, à casa do nosso pai Ifá", iniciou Babá Boro, com voz firme e olhar profundo. Em sua fala, traçou um percurso de mais de três décadas de vivência, sacerdócio, de resistência, de construção da Afri Religiosidade no coração do cerrado brasileiro, onde o sagrado africano foi mantido vivo mesmo diante da perseguição, do preconceito e do esquecimento imposto pela história oficial. "Não construímos apenas casas de culto. Construímos territórios de memória. Aqui, cada batida de atabaque é um grito de liberdade", afirmou, emocionando aos presentes.
Em seguida, Mãe Baiana, guardiã da sabedoria e voz materna da comunidade, ergueu sua fala com dignidade e declarou: "Unidos estamos mais fortes. A espiritualidade é nossa arma contra o racismo, contra a opressão, contra o apagamento. Quando os Orixás falam, o mundo ouve. E hoje, a África está nos ouvindo de volta.". Sua fala ecoou como um mantra coletivo: a unidade não é escolha, é necessidade de sobrevivência.
Foi então que Ajoyemi Osunleye, trajando vestes tradicionais, tomou a palavra como Mensageiro do Sagrado. Representante Diplomático da 6ª Região da União Africana – a Diáspora – e Consultor do Congresso Mundial de Orixás, ele não veio apenas como visitante, mas como portador de uma missão histórica. "Trago-vos as bênçãos de Sua Majestade Imperial, o Ooni de Ifé, o primogênito de Oduduwa, o guardião do berço da humanidade. Ele vem. Em breve, o Rei de Ifé colocará seus pés nesta terra, não como turista, mas como pai espiritual, como chefe de família que reencontra seus filhos perdidos."
O anúncio foi seguido por um silêncio reverente, rompido por palmas e gritos de “Asé! Asé! Asé!”. Mas Ajoyemi não parou por aí. Com solenidade, revelou que Sua Excelência o Presidente da República da Nigéria, Bola Tinubu, chegaria ao Brasil naquele domingo à noite, onde, e na segunda além de se encontrar com o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fará um gesto sem precedentes: se reunirá com a comunidade afro-religiosa e negra de Brasília e territórios na Câmara Legislativa Distrital, numa iniciativa do Gabinete do Deputado Distrital Gabriel Magno (PT-DF). "É um ato político, sim. Mas é, acima de tudo, um ato espiritual. A África está voltando a nos chamar pelo nome.
A fala de Otunba Bopdun Ajiboye selou o momento com emoção contida, mas profunda. "Estou aqui não como funcionário, mas como filho de África. E hoje, sinto como se minha mãe me abraçasse depois de séculos de separação. Esse abraço não é só meu, é de todos nós. É o abraço de Ifé, de Ile-Ife, da Terra-Mãe." Ele destacou a importância do retorno – não apenas físico, mas simbólico, espiritual, político. "Voltar para a África não é fuga. É reencontro. É assumir quem somos. É curar a ferida da escravidão com a força da ancestralidade."
O evento, que contou com apresentações de toques sagrados aos Orixás e o compartilhamento de comidas e rituais, foi muito mais do que uma visita protocolar. Foi um ato de descolonização espiritual**. Foi a afirmação de que o Brasil negro não está sozinho. Foi o grito de que a religiosidade afro-brasileira não é folclore, nem sincretismo diluído – é tradição viva, resistência, soberania.
Naquele terreiro, sob o olhar atento de Orunmilá, o mensageiro do destino, o futuro se desenhou com clareza: a ponte entre África e Brasil está sendo reconstruída, tijolo espiritual por tijolo espiritual. E quando o Ooni de Ifé chegar, e quando o Presidente da Nigéria apertar a mão de nossos sacerdotes, não será apenas diplomacia. Será reparação. Será reencontro. Será o retorno do filho pródigo – não com vergonha, mas com coroa.
Que este momento em Ifá Ajé seja lembrado como o dia em que a África estendeu a mão e disse:
"Meus filhos, vocês nunca saíram de casa. A casa é vocês. E vocês são a casa."
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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