Por Ògan Assogbá Luiz Alves - PROJETO ONÍBODÊ
Em um país onde o racismo estrutura as relações sociais, dois episódios recentes escancaram a diferença brutal no tratamento dispensado a pessoas brancas e negras, mesmo quando ocupam posições de destaque ou cometem graves infrações. De um lado, Sophia Almeida, a falsa médica branca que colocou em risco a vida de crianças cardiopatas no Hospital Universitário Getúlio Vargas, em Manaus. Do outro, a ministra do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Vera Lúcia Santana, uma mulher negra de trajetória impecável, vítima de racismo nas dependências da Advocacia-Geral da União (AGU).
O Caso Sophia Almeida: O Crime com Tratamento Amigável
Sophia Almeida atuou ilegalmente como médica pediátrica, atendendo crianças com graves problemas cardíacos, sem qualquer qualificação para isso. O hospital, uma instituição pública vinculada à Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sequer verificou a autenticidade de seus documentos. Quando descoberta, foi presa em uma academia, conduzida de forma cordial à delegacia, sem algemas, sem revistas humilhantes, sem violência, sem o espetáculo midiático que costuma acompanhar a prisão de pessoas negras acusadas de crimes muito menos graves.
A pergunta que não cala: como uma instituição de ensino e saúde contrata alguém sem ao menos checar sua formação? A resposta passa pelo racismo institucional, que naturaliza a credibilidade inerente à branquitude. Uma pessoa branca, mesmo fraudulenta, é recebida com menos desconfiança do que uma pessoa negra com todos os diplomas do mundo. Quantas crianças ou demais pacientes vieram à óbito devido tal irresponsabilidade?
O Caso Vera Lúcia: A Ministra Negra que Precisou se Provar
Enquanto isso, a ministra Vera Lúcia Santana, mulher negra, jurista de carreira consolidada, ocupante de um dos cargos mais altos do Judiciário brasileiro, sofreu racismo explícito dentro da AGU. Mesmo apresentando sua identificação como autoridade, foi barrada, ignorada e humilhada por agentes que duvidaram de sua legitimidade.
O que esse episódio revela? Que não importa o título, a posição ou a competência: uma pessoa negra sempre terá sua presença questionada em espaços de poder. Vera Lúcia não foi reconhecida como ministra porque, no imaginário racista, negros não ocupam naturalmente lugares de autoridade.
Racismo Étnico e de Gênero: A Dupla Violência
Os dois casos evidenciam como o racismo opera de formas distintas, mas complementares:
- Para pessoas brancas, mesmo criminosas, há uma presunção de inocência e dignidade.
- Para pessoas negras, mesmo autoridades, há uma exigência eterna de comprovação.
Além disso, Vera Lúcia enfrenta o racismo de gênero: ser uma mulher negra em um espaço majoritariamente branco e masculino significa ser duplamente questionada. Enquanto Sophia, branca, foi tratada com deferência mesmo cometendo um crime gravíssimo, Vera, negra, foi tratada como intrusa em seu próprio local de trabalho.
Ser Negro no Brasil é uma Luta Diária
Esses episódios mostram que não basta ascender socialmente: o racismo persiste, adapta-se e se reafirma. Enquanto pessoas brancas desfrutam do benefício da dúvida, pessoas negras precisam provar, todos os dias, que merecem estar onde estão.
Chega de racismo! Chega de violência institucional! É urgente que a sociedade reconheça esses mecanismos e lute por um país onde a negritude não precise ser justificada, mas celebrada.
#VidasNegrasImportam #BastaDeRacismo
Que os orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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