terça-feira, 16 de setembro de 2025

ASE AJAGUNAN NASCE COMO RESISTÊNCIA E AXÉ NA TERRA DE ODISSÉIA

Por Ògan Assogbá Luiz Alves

Águas Lindas de Goiás — GO

Nos dias 06 e 07 de setembro de 2025, sob céu aberto e terra batida, pulsou forte o coração de Ketu em terras goianas. Nas Mansões Odisséia, distante dos grandes centros, mas profundamente conectada às raízes ancestrais, nasceu o Ilê Asé Oluwa Írin Ati Mimo ti Osogiyan — Ase Ajagunan, uma nova casa de Axé de raiz Opó Afonjá do Rio de Janeiro, agora plantada com força e fé no cerrado goiano.







A abertura do Ase Ajagunan — que em yorubá significa “O Poder dos Guerreiros” — foi conduzida com maestria por Pai Ricardo de Oxóssi, sacerdote experiente e guardião de tradições, que celebrou com lágrimos nos olhos e voz firme mais uma etapa da caminhada de seu filho espiritual: Babá Milá, agora à frente de sua própria casa, pronto para conduzir seus trabalhos, seus filhos e suas obrigações com a ancestralidade.






“Ver meu filho erguer seu Ilê é como ver uma árvore que plantei dar frutos para alimentar muitos. É orgulho, é responsabilidade, é Axé multiplicado”, declarou Pai Ricardo, cercado por ogãs, ekedis e filhos de santo que entoavam pontos e dançavam ao som dos atabaques.

A cerimônia contou ainda com a presença marcante de Pai Alan Baloni de Ogum, que chegou com sua corrente de guerreiros e guerreiras, trazendo bênçãos de ferro e fogo, e com representantes de outras casas de Águas Lindas — terra que, apesar das adversidades, tem se tornado um celeiro de resistência afro-religiosa no Entorno do DF. Também estiveram presentes lideranças da Comunidade Afro-Religiosa de Brasília e Territórios, da ATRACAR - GO reforçando a rede de irmandade que une terreiros além das fronteiras geográficas.








Mas o que mais tocou os presentes, tudo aconteceu ao ar livre, na terra nua, sem palcos, sem cercas, sem artifícios. Foi um retorno deliberado aos primórdios da nossa fé, quando nossos ancestrais, escravizados, só tinham o pátio das senzalas ou o meio das matas para celebrar seus Orixás. Muitas vezes escondidos, mas sempre resistentes. Sempre vivos.

Celebrar na terra é lembrar de onde viemos. É honrar os que dançaram escondidos, que cantaram baixinho, que invocaram seus Orixás mesmo com o chicote por perto. Hoje, dançamos abertamente. Mas não esquecemos: cada batida de atabaque é um grito de liberdade”.


O NASCER DE UMA CASA É UM ATO POLÍTICO

Não se engane: abrir um terreiro hoje — especialmente em regiões periféricas, onde o fundamentalismo avança como fogo em capim seco — é um ato de coragem. É resistência. É política. É dizer: estamos aqui. Não vamos embora. Não conseguirão nos calar.

O Ase Ajagunan nasce como um bastião de cultura, espiritualidade e memória. Nasce como um grito de existência num país que ainda tenta apagar nossa presença. Ser afro-religioso é ser resiliente. É carregar no corpo a dor da diáspora e transformá-la em dança, em canto, em oferenda. É saber que nossa força vem dos ancestrais, que nosso amor ao Sagrado é maior que qualquer intolerância.




Que Oxalá abençoe os caminhos do Ilê Asé Oluwa Írin Ati Mimo ti Osogiyan — Ase Ajagunan. Que Ogum abra seus caminhos. Que Oxóssi guarde sua entrada. Que Iansã varra toda energia contrária. E que Exu Oníbodê, o Porteiro, jamais deixe a intolerância cruzar seu umbral.

Axé pra quem merece.  

Resistência pra quem luta.  

E que o Ase Ajagunan prospere — hoje, amanhã e sempre.


ONÍBODÊ O PORTEIRO  

Onde o Axé entra e a intolerância não passa

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

*APOIE, DIVULGUE E INCENTIVE O ONÍBODÊ (O PORTEIRO) por uma comunicação ANTI-FACISTA, ANTI-RACISTA e de apoio à Nossa Comunidade Negra e Afro Religiosa com doações a partir de R$25,00 (vinte e cinco reais)*

CLIQUE NO LINK ABAIXO PRA APOIAR

  https://apoia.se/projetoonibode


2 comentários:

  1. O Asè Ajagunan se inicia com muita fé, resistência e portas abertas para receber àqueles que buscam abrigo na espiritualidade. Que dia após dia possamos juntos ser um povo que se une para manter as portas de nossos terreiros abertas para louvar o sagrado e agradecer por tudo que nos foi e é concedido. Asè asè, que pai Ogum abençoe a todos. As fotos ficaram maravilhosas, Motumbá Pai Luiz, modupé!

    ResponderExcluir
  2. A escrita do Senhor tem a força de uma faca, já pensou em escrever um livro sobre o candomblé do entorno e ter suas fotos como ilustração? Pense. Ta show! Benção meu velho. Te amo!

    ResponderExcluir

Dê sua opnião para que possamos melhorar nosso trabalho.