1º Encontro das Vozes Afro Ancestrais do Cerrado fortalece diálogo entre comunidades tradicionais e poder público em Brasília

Por Ògan Assogbá Luiz Alves PROJETO ONÍBODÊ 

Brasília, 10/04/2025 — Sob o som sagrado dos atabaques e o aroma de águas de cheiro, o 1º Encontro das Vozes Afro Ancestrais do Cerrado transformou a tarde desta quinta-feira na Fundação Cultural Palmares (FCP) em um marco de reencontro e resistência. O evento, idealizado para reaproximar a comunidade afro-religiosa de Brasília e regiões vizinhas com instituições governamentais, reuniu lideranças religiosas, autoridades e coletivos em uma jornada de celebração, diálogo e compromisso com as pautas ancestrais.  

A cerimônia começou com uma *lavagem do local*, ritual tradicional que uniu Iyás (mães de Axé )de diversas casas de axé da capital e do Entorno. Ao som dos atabaques, as águas sagradas carregadas de intenções de paz e união banharam os espaços da FCP, simbolizando a purificação e a reconexão com as raízes africanas. “Foi um momento de fortalecimento coletivo. Ver tantas Iyás juntas, em sintonia, reacende a esperança de que nossa voz será ouvida”.  

Após o ritual, os participantes dirigiram-se ao auditório da FCP para a sessão solene. Na mesa de abertura, estavam representantes de instituições como o Ministério da Igualdade Racial (MIR), Fundação Cultural Banco do Brasil, deputada federal Erika Kokay (PT-DF), RENAFRO-Centro-Oeste, PROJETO ONÍBODÊ, FOAFRO-DF, ATRACAR-GO, além de coletivos como Defensores do Axé,  Mulheres de Axé,  e a Federação de Umbanda e Candomblé de Brasília e Entorno.  

Carta Compromisso: um pacto pela ancestralidade  

O ponto alto do encontro foi a leitura da *Carta Compromisso*, elaborada por uma comissão de religiosos após reuniões de debates. O documento, apresentado por Ekédjí Cida, coordenadora responsável pelo evento na FCP, lista demandas prioritárias da comunidade, como combate à intolerância religiosa, garantia de direitos territoriais para terreiros e inclusão de representantes afro-religiosos em políticas públicas.  

“Essa carta não é um papel, mas um pacto vivo. Ela nasceu das mãos de quem vive na pele a luta diária por respeito”, afirmou Cida, emocionada. A proposta inclui a criação de um fórum permanente de discussão entre a FCP e as lideranças, além de ações educativas para preservar o patrimônio imaterial das religiões de matriz africana.  

Roda de conversa: vozes em sintonia

Na sequência, uma roda de conversa abriu espaço para relatos emocionados. Representantes de entidades como o Projeto Oníbodê e a Escola de Samba Bola Preta de Sobradinho compartilharam experiências de enfrentamento ao racismo religioso, social  e étnico, propuseram ações conjuntas. “Precisamos ocupar não só os terreiros, mas os espaços de decisão. Estamos aqui para cobrar políticas que nos incluam de verdade”, reforçou uma integrante do Coletivo de Iyás.  

Celebração e encerramento

O evento terminou em clima de celebração, com um coffee break animado pelas batidas do Grupo Omo Ayó, que com cantos tradicionais de candomblé com ritmos Sagrados envolveu o ambiente com a energia própria dos afro religiosos. Enquanto os participantes se despediam, era possível ouvir comentários sobre a importância do encontro: “Hoje não foi só um evento, mas um reencontro com nossa própria história”, resumiu uma mãe de santo de Planaltina.  

Próximos passos

A FCP se comprometeu a dar continuidade ao diálogo, com previsão de novos encontros temáticos ainda em 2025. O Pres. Da FCP em sua fala reafirmou sua disposição na busca de uma solução para a PRAINHA - PRAÇA DOS ORIXÁS, o único espaço  público em referência a comunidade afro-religiosa, o 1º Encontro das Vozes Afro Ancestrais do Cerrado já nasce como um símbolo de que a ancestralidade, quando unida, é capaz de ecoar por todos os cantos do Planalto Central.  

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