quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Por que o Voto Negro é um Ato de Legítima Defesa

Por: Ògan  Assogbá Luiz Alves 

O dia 20 de Novembro não é uma data de luto. É um dia de celebração da resistência de Zumbi, Dandara e todos os guerreiros e guerreiras de Palmares. E o que era Palmares, senão o mais ousado e bem-sucedido projeto político autônomo da história do povo negro no Brasil? Um projeto que foi combatido com toda a violência do Estado porque era, acima de tudo, uma prova viva de que a liberdade e o autogoverno eram possíveis.

A pergunta que ecoa, mais de três séculos depois, é: onde está o nosso Quilombo hoje?

A resposta é incômoda, mas necessária: a luta pelo Quilombo migrou. Ela saiu dos pés dos morros e se instalou nos plenários, nas câmaras municipais, nos gabinetes. A disputa pela liberdade, que antes era travada no campo de batalha com armas de fogo, hoje é travada no campo das ideias, dos orçamentos, das leis e dos votos. E entender a política institucional como herdeira direta da luta quilombola não é uma opção – é uma questão de sobrevivência.

Não se engane: a política é o novo campo de batalha. Quando um parlamentar propõe um projeto que inviabiliza a titulação de terras quilombolas, ele está reeditando o ataque ao Quilombo dos Palmares. Quando um governante corta verba da educação e da saúde nas periferias, majoritariamente negras, ele está assinando uma sentença de morte social. Quando um discurso fascista ganha espaço, pregando a hierarquização de raças e a supressão de direitos, ele está declarando guerra à nossa existência. O fascismo é, e sempre foi, a antítese da liberdade negra.

Nesse contexto, o voto deixa de ser um mero direito cívico. Para a população negra, que constitui a maioria da base da pirâmide social e é a principal vítima da violência de Estado, do desemprego e da precarização, o voto é um ato de legítima defesa coletiva.

Votar não é sobre escolher um salvador da pátria. É sobre elegermos representantes que não negociarão a nossa humanidade. É sobre colocar no poder pessoas que sabem, na pele, o que é ser seguido em uma loja, o que é ter um filho interpelado pela polícia, o que é ver sua religião ser chamada de "coisa do demônio". É sobre garantir que, quando o orçamento for discutido, haja alguém para lembrar que as comunidades carecem de saneamento básico, não de mais balas.

Mas a participação política não pode se esgotar na urna. A mesma energia que organizava os quilombos deve organizar as comunidades hoje. É preciso criar comitês, pressionar candidaturas, cobrar mandatos, ocupar as ruas. O povo de axé, que sabe a força de uma comunidade unida em torno de um propósito, tem a fórmula para a mudança. A política é o terreiro da cidade. E o boletim de urna é o nosso adjá.

Zumbi não lutou para que tivéssemos a liberdade de sermos governados por quem nos oprime. Ele lutou pelo nosso direito de governar a nós mesmos. Honrar essa luta em 2026 significa transformar a consciência negra em ação política negra. Ou seja elegermos o máximo de irmãos e irmãs comprometicos com nossa fé. Significa ocupar os espaços de poder com a mesma coragem com que nossos ancestrais ocuparam o sertão de Alagoas para construir seu reino de liberdade.

O Quilombo é hoje. A luta é nas urnas, nas câmaras e nas ruas. E a nossa arma, por enquanto, ainda é o voto.

Pensem nisso. E ajam.

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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