Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ
Na última quarta-feira, 12 de novembro de 2025, o Ministério da Saúde realizou um seminário histórico e inédito em sua abrangência voltado à formação intercultural de 26 mil médicos do Programa Mais Médicos, com foco especial na região Centro-Oeste. O evento, que aconteceu das 9h às 17h, teve como tema central o “Fortalecimento das Práticas de Cuidado Intercultural para Médicos do Programa Mais Médicos” e contou com uma palestra marcante da Mãe Baiana de Oyá, liderança religiosa reconhecida e coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO) no Distrito Federal e Centro-Oeste.
A iniciativa, conduzida pela Coordenação-Geral de Apoio à Gestão Descentralizada (CGAPP/DEGEPS/SGTES/MS), representa um avanço significativo na política de saúde pública brasileira, ao reconhecer que o cuidado integral pressupõe o respeito às tradições, saberes e modos de vida dos povos originários e comunidades tradicionais entre elas, as comunidades de terreiro de matriz africana.
Sabedoria ancestral em diálogo com a medicina contemporânea
Em sua fala, Mãe Baiana de Oyá compartilhou experiências vividas ao longo de décadas dentro dos terreiros, destacando a importância de um olhar sensível e respeitoso por parte dos profissionais de saúde ao atenderem pessoas que vivem sob referenciais culturais e espirituais afro-brasileiros. Ela chamou atenção para três eixos fundamentais:
- O respeito aos modos tradicionais de viver e se alimentar, muitas vezes incompreendidos ou desvalorizados pela biomedicina hegemônica;
- A centralidade das plantas medicinais e ervas sagradas, trazidas pelos antepassados africanos como ferramentas de cuidado primário e prevenção prática ancestral já consolidada antes mesmo da chegada da medicina ocidental ao território brasileiro;
- A necessidade de escuta qualificada e acolhimento das vivências religiosas, evitando julgamentos que podem gerar evasão ao sistema de saúde ou adoção de condutas inadequadas.
“Nossos ancestrais já cuidavam da saúde com chás, banhos de folhas, dietas rituais e sabedoria transmitida oralmente de geração em geração. Isso não é ‘crença’, é conhecimento acumulado e merece ser ouvido, respeitado e, quando possível, integrado num cuidado colaborativo”, afirmou Mãe Baiana, sob aplausos dos profissionais presentes.
Parceria estratégica com a RENAFRO
O seminário contou com a parceria da RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, organização que desde 2005 atua na interface entre saúde pública e direitos humanos, promovendo o diálogo intercultural e o combate ao racismo religioso no acesso à saúde. A presença da Rede reforçou o compromisso do Estado brasileiro com a Lei nº 13.709/2018, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, e com o Decreto nº 9.095/2017, que regulamentou a Estratégia Nacional de Saúde da População Negra ambos reconhecendo os terreiros como espaços de promoção da saúde.
Mãe Baiana foi convidada especialmente pela coordenadora-geral da CGAPP, Thaís Maranhão de Sá Carvalho, cuja iniciativa sinaliza um novo momento na gestão do SUS: o de incorporação efetiva da diversidade étnico-racial como componente estruturante das políticas de saúde.
Um SUS mais humano, acolhedor e para todos
De acordo com o Ministério da Saúde, o objetivo do seminário vai além da capacitação técnica: é construir “um cuidado que respeite a integralidade do sujeito em sua dimensão cultural, espiritual e social”. A pasta reforça que a Atenção Primária só será verdadeiramente resolutiva quando os profissionais forem capazes de enxergar e valorizar os múltiplos saberes que compõem a identidade brasileira.
Para Mãe Baiana, o evento foi “um marco de resistência e de esperança”. “Quando o Estado nos chama não para falar sobre nós, mas conosco, é sinal de que os ventos estão mudando. Oxalá esse vento seja forte o suficiente para desmontar preconceitos e construir pontes”, concluiu.
Agora, a expectativa é que os ensinamentos compartilhados sejam replicados nos territórios e incorporados à rotina dos profissionais, garantindo que o SUS cumpra, de fato, seu princípio constitucional: saúde como direito de todas e todos sem exceção, e com respeito à ancestralidade que nos constitui.
Com informações do Ministério da Saúde e da RENAFRO
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
*APOIE, DIVULGUE E INCENTIVE O ONÍBODÊ (O PORTEIRO) por uma comunicação ANTI-FACISTA, ANTI-RACISTA e de apoio à Nossa Comunidade Negra e Afro Religiosa com doações a partir de R$25,00 (vinte e cinco reais)*
CLIQUE NO LINK ABAIXO PRA APOIAR
https://apoia.se/projetoonibode

Nenhum comentário:
Postar um comentário
Dê sua opnião para que possamos melhorar nosso trabalho.