Por:Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ
No coração da capital federal, onde a política muitas vezes se sobrepõe à vida comunitária, nasceu há um ano um movimento de reencontro, afirmação e resistência: o Clube Social Negro de Brasília (CSN). Neste sábado (8), centenas de pessoas se reuniram no Pardim Beira Lago, no Minas Tênis Clube, em um evento que marcou não apenas uma data no calendário, mas um marco histórico na organização da comunidade negra brasiliense.
A celebração do primeiro aniversário do CSN foi muito mais que uma festa de aniversário foi um ato de existência plena: corpos negros em movimento, vozes potentes em roda, saberes ancestrais em diálogo com o contemporâneo e, sobretudo, a alegria como ferramenta política e espiritual de resistência.
Um sonho coletivo, uma conquista comunitária
Fundado por um grupo de cerca de 50 profissionais negros de diversas áreas professores, comunicadores, servidores públicos, artistas, pesquisadores e ativistas, o CSN surgiu da necessidade urgente de criar espaços de convivência que fossem, ao mesmo tempo, lugares de acolhimento, reflexão e ação. Em uma cidade marcada pela desigualdade racial e pela fragmentação social, o Clube assumiu o desafio de tecer redes de pertencimento, promovendo encontros que vão do lazer à formação política.
Sob a liderança do presidente Heitor Perpétuo e Caína Castanha, uma arquiteta da construção cotidiana do Clube, o CSN firmou-se como referência na capital. “Não queríamos só um clube social no sentido tradicional. Queríamos um terreiro urbano, um espaço onde a gente pudesse respirar, pensar, criar e dançar juntos e, ao fazê-lo, afirmar nossa humanidade plena”,
A festa como ritual de celebração e fortalecimento
A festa de aniversário, organizada com maestria pela Kitanda, liderada por Tata Luazi Luango uma das vozes mais respeitadas na preservação das tradições banto-kongo em Brasília , foi uma verdadeira manifestação de cultura viva.
O cenário: o gramado à beira do Lago Paranoá, sob um sol generoso e céu azul profundo, remetia aos encontros tradicionais das comunidades negras urbanas, onde o espaço público é ressignificado como território de pertencimento.
A programação foi uma amostra da riqueza que o CSN representa:
- Roda de samba com vozes que honram os mestres do passado e inventam o futuro: Gija Barbieri, Pati Barcellos, Arthur Bartholo e Marcelo Santos levaram o público a cantar, sambar e refletir em versos que falavam de amor, luta, memória e esperança.
- A participação especial de Marcelo Café, um dos nomes mais reverenciados da música negra de Brasília, emocionou a todos com sua voz e sua trajetória de resistência artística.
- DJ Afrika animou a tarde com um set que viajou da soul music aos clássicos do funk consciente e do samba-rock, conectando gerações em batidas ancestrais.
- A Feira Criativa reuniu empreendedores negros locais, expondo moda afro, literatura, cosméticos naturais e artesanato com raízes na estética negra.
- O bingo com premiação simbólica e afetiva: uma tela do renomado artista plástico Ronaldo Ferreira, cuja obra é conhecida por retratar com vigor e poesia a beleza e a complexidade da experiência negra brasileira.
O futuro é coletivo e negro
O Clube Social Negro de Brasília já provou que veio para ficar. E, como diz o provérbio iorubá:
“Ọmọlúàbí kò gb’ẹ̀sìn; ẹni tí ó bá rí, ó máa rí.”
(O ser humano de caráter não se perde; quem o encontra, sempre o reencontrará.)
Que venham os próximos 10, 20, 50 anos — sempre com música, memória, luta e muita alegria.
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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