domingo, 23 de novembro de 2025

" HILÁRIO”: O RISO QUE ESCONDE O Grito — Uma Jornada Pelo Tempo, o Espaço e a Invisibilidade da Loucura




Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Amanhã, às 15h e às 20h, o Teatro Paulo Autran - SESC Taguatinga será palco de um encontro urgente, necessário e profundamente humano: a estreia da peça “HILÁRIO”, um monólogo visceral estrelado por Ricardo Cesar e dirigido com sensibilidade cirúrgica por Nei Cirqueira. Mais do que um espetáculo, Hilário é um ato de resistência contra o silêncio cruel que envolve os transtornos mentais e um chamado para enxergarmos aquilo que insistimos em não ver.

O nome do protagonista é irônico. Hilário. Um nome que evoca riso, leveza, espontaneidade. Mas o que se desdobra no palco é outra coisa: um mergulho vertiginoso na subjetividade de um homem cuja mente não responde aos mesmos compassos do mundo exterior. Ele fala com objetos como se fossem velhos amigos. Confunde passado, presente e futuro como quem embaralha cartas de um jogo que nunca aprendeu a jogar. E, mesmo assim ou justamente por isso, é mais honesto do que muitos de nós que fingimos ter tudo sob controle.

Ricardo Cesar entrega uma atuação de rara coragem. Não há caricatura, não há sensacionalismo. Há humanidade pura, crua e pulsante. Em seus gestos, há uma dança entre o caos e a lucidez; em sua voz, o eco de mil vozes caladas aquelas que cruzamos na fila do pão, no ônibus lotado, no parque, e das quais desviamos o olhar. Ele não representa um transtorno mental: ele habita uma experiência de alteridade radical e nos convida a entrar, sem julgamento, sem piedade, apenas com presença.

A direção de Nei Cirqueira é um exercício de empatia espacial. O corpo de Cesar não ocupa o palco: ele reconfigura o espaço. As luzes, os sons, os objetos de cena  tudo se desloca conforme sua percepção do tempo e da realidade. O que para nós é linear, para Hilário é espiral. O que para nós é sólido, para ele é fluido, poroso, às vezes ameaçador. A encenação não explica a loucura; ela oferece um mapa sensível para que o público a experimente por breves minutos de dentro.

Mas Hilário não é uma peça sobre “doença”. É sobre invisibilidade social. É sobre como nossa cultura patologiza, marginaliza e pior apaga quem não cabe nos padrões de produtividade, racionalidade e controle emocional. Quantos Hilários caminham ao nosso lado, falando sozinhos em praças públicas, segurando sacolas de plástico como se fossem relíquias, rindo em silêncio de piadas que só eles ouvem? Quantos foram internados, medicados, silenciados não pela gravidade de seus sintomas, mas pela incapacidade da sociedade de conviver com a diferença?

A peça nos confronta com uma pergunta incômoda:
Quando olhamos para alguém em crise, enxergamos um sujeito ou apenas um problema a ser removido do caminho?

Em tempos em que a saúde mental é pauta, mas o preconceito ainda dita as regras do convívio, Hilário é um antídoto contra a indiferença. É uma lembrança de que o “outro” não é distante: ele pode ser seu irmão, seu colega, seu vizinho ou você, em um dia em que o mundo pesar demais.

Não se trata de romantizar o sofrimento, mas de reconhecer a dignidade daqueles que vivem em outra frequência. De entender que transtornos mentais não são falhas morais, nem escolhas são experiências humanas complexas, muitas vezes agravadas pela solidão institucionalizada.

Ao final da sessão, o público não sai com respostas. Sai com perguntas. Com o coração mais pesado e, paradoxalmente, mais leve. Porque, por uma hora, aprendemos a escutar não com os ouvidos, mas com o corpo. E descobrimos que, às vezes, é no aparente delírio que reside a maior lucidez.

Serviço:
🎭 HILÁRIO
intérprete: Ricardo Cesar
direção: Nei Cirqueira
📅 25 de novembro de 2025
📍 Teatro Paulo Autran – SESC Taguatinga (DF)
🕗 Sessões: 15h00 e 20h00
🎟 Ingressos: R$ 20 (inteira) / R$ 10 (meia) — à venda na bilheteria do SESC
♿ Acessibilidade garantida

Não vá apenas assistir.
testemunhar.


“O maior perigo da loucura não é a desordem da mente. É a ordem da indiferença.”

Axé!

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