terça-feira, 2 de setembro de 2025

6ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Goiás: A Força da Resistência Negra em Marcha por Justiça e Dignidade

 

Por Ògan Assogbá Luiz Alves

Goiânia, setembro de 2025 - Nos dias 29 e 30 de agosto, a capital goiana pulsou com a energia ancestral dos povos negros, com a firmeza de um povo que, há séculos, resiste, ressurge e reafirma sua existência. Em um clima de empoderamento, espiritualidade e luta, realizou-se a 6ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Goiás, um marco histórico no fortalecimento do movimento negro no estado e um passo decisivo rumo à retomada da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, após sete anos de silêncio institucional. O evento, que ocorreu em Goiânia, foi o ápice de uma série de conferências municipais que percorreram diversas cidades de Goiás, mobilizando comunidades quilombolas, terreiros de matriz africana, coletivos de mulheres negras, juventude periférica, artistas, religiosos, intelectuais e ativistas. Tudo com um propósito claro: reconstruir a agenda antirracista no país, com base nas vozes que mais sofrem com o racismo estrutural, mas que raramente são ouvidas nos corredores do poder.

Abertura com Força de Raiz

A sexta-feira, 29, começou com uma abertura que já anunciava o tom da Conferência: respeito, ancestralidade e protagonismo negro. A solenidade foi conduzida com dignidade e simbologia, marcada por apresentações culturais que celebraram a riqueza da cultura afro-brasileira. A presença de autoridades religiosas de matrizes africanas foi um dos momentos mais emocionantes: babalorixás, iyalorixás, ogãs, ekédjís e ebomis ocuparam o espaço com a serenidade daqueles que carregam sabedoria milenar e a coragem de quem resiste à intolerância religiosa todos os dias.

O Sr. Ògan Félix, presidente do Conselho Estadual dos Direitos Humanos de Goiás, assumiu a condução dos trabalhos com a postura firme e acolhedora de quem entende que justiça racial  também justiça espiritual. Ao seu lado, o Sr. Lehi Souto, da Secretaria Estadual de Combate ao Racismo, reforçou o compromisso do Estado em avançar nas políticas públicas de igualdade racial. Ambos foram aplaudidos pela forma democrática e respeitosa com que conduziram os debates, honrando a tradição das comunidades negras de ouvir, acolher e construir coletivamente.

 Debates que Transformam

No sábado, 30, os trabalhos começaram cedo, com a leitura das normas regimentais — um ritual necessário, mas que, neste contexto, ganhou outro sentido: era a *afirmação de um processo legítimo, participativo e político. Os Grupos de Trabalho (GTs) se dividiram por eixos. Em cada um desses espaços, histórias de dor se transformaram em propostas de futuro. O que mais chamou atenção foi a maturidade política dos participantes. Em um país onde o debate racial ainda é tratado com desconforto por muitos, ali, entre negros e negras, povos ciganos, povos originários, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e povos de terreiro, reinava o diálogo fraterno, mesmo diante de opiniões divergentes. Foi possível ver, na prática, o que é a ética comunitária negra: respeitar o outro, mesmo quando se discorda; escutar para transformar. As propostas debatidas e aprovadas na plenária final foram incisivas: ampliação do acesso à educação antirracista nas escolas, criação de políticas de proteção às religiões de matriz africana, combate à violência policial, regularização de territórios quilombolas, cotas raciais efetivas no serviço público e valorização da cultura negra como patrimônio vivo da nação. Cada deliberação carregava não apenas um desejo, mas uma exigência: o direito à vida plena para os povos negros.

Um Passo para o Brasil

A eleição dos delegados para a Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial foi o ato final, mas também o início de uma nova etapa. Após sete anos de paralização — um hiato que reflete o retrocesso nas políticas de direitos humanos no país —, a retomada desse espaço é um sinal de esperança. E Goiás está entrando nesse processo com voz forte, pauta clara e povo organizado. A presença de Comunidades de Povos Originários, pessoas com deficiência, população LGBT+ e representantes de diversas esferas da sociedade civil mostrou que a luta contra o racismo não é isolada: ela se entrelaça com todas as batalhas por dignidade. A igualdade racial só será real quando for interseccional.

Mensagem de Esperança

A 6ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Goiás não foi apenas um evento institucional. Foi um ato de resistência, um **rito de fortalecimento coletivo, uma celebração da identidade negra. Foi a prova de que, mesmo diante do descaso, da violência e da desigualdade, o povo negro segue em pé — e não só em pé, mas avançando, propondo, liderando. A ATRACAR se fez presente com a presença de Mãe Déia Talamugongo e representantes de diversas cidades do Entorno de Brasília.

Que esta Conferência ecoe além dos muros do auditório onde foi realizada. Que suas propostas cheguem ao Congresso, aos governos estaduais e municipais, às escolas, às igrejas, aos lares. Que inspire outras conferências, outras mobilizações, outras formas de existir com orgulho.

“Enquanto houver um atabaque tocando, enquanto houver um negro sonhando, a luta não para. A gente resiste. A gente vence.”

Esta matéria é um tributo a todos os que caminham com firmeza na estrada da igualdade. Aos babalorixás e iyalorixás que protegem nossas almas. Às mães de santo que curam com ervas e fé. Aos jovens que ocupam espaços com coragem. Às mulheres negras que são a espinha dorsal desse movimento. A você, que lê e acredita que outro Brasil é possível. Seguimos!

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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