Por Ògan Assogbá Luiz Alves
Goiânia, setembro de 2025 - Nos dias 29 e 30 de agosto, a
capital goiana pulsou com a energia ancestral dos povos negros, com a firmeza
de um povo que, há séculos, resiste, ressurge e reafirma sua existência. Em um
clima de empoderamento, espiritualidade e luta, realizou-se a 6ª Conferência
Estadual de Promoção da Igualdade Racial de Goiás, um marco histórico no
fortalecimento do movimento negro no estado e um passo decisivo rumo à retomada
da Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial, após sete anos de
silêncio institucional. O evento, que ocorreu em Goiânia, foi o ápice de uma
série de conferências municipais que percorreram diversas cidades de Goiás,
mobilizando comunidades quilombolas, terreiros de matriz africana, coletivos de
mulheres negras, juventude periférica, artistas, religiosos, intelectuais e
ativistas. Tudo com um propósito claro: reconstruir a agenda antirracista no
país, com base nas vozes que mais sofrem com o racismo estrutural, mas que
raramente são ouvidas nos corredores do poder.
Abertura com Força de Raiz
A sexta-feira, 29, começou com uma abertura que já anunciava
o tom da Conferência: respeito, ancestralidade e protagonismo negro. A
solenidade foi conduzida com dignidade e simbologia, marcada por apresentações
culturais que celebraram a riqueza da cultura afro-brasileira. A presença de
autoridades religiosas de matrizes africanas foi um dos momentos mais
emocionantes: babalorixás, iyalorixás, ogãs, ekédjís e ebomis ocuparam o
espaço com a serenidade daqueles que carregam sabedoria milenar e a coragem de quem
resiste à intolerância religiosa todos os dias.
O Sr. Ògan Félix, presidente do Conselho Estadual dos
Direitos Humanos de Goiás, assumiu a condução dos trabalhos com a postura firme
e acolhedora de quem entende que justiça racial
também justiça espiritual. Ao seu lado, o Sr. Lehi Souto, da Secretaria Estadual de Combate ao Racismo, reforçou o compromisso do Estado em
avançar nas políticas públicas de igualdade racial. Ambos foram aplaudidos pela
forma democrática e respeitosa com que conduziram os debates, honrando a
tradição das comunidades negras de ouvir, acolher e construir coletivamente.
Debates que
Transformam
No sábado, 30, os trabalhos começaram cedo, com a leitura das normas regimentais — um ritual necessário, mas que, neste contexto, ganhou outro sentido: era a *afirmação de um processo legítimo, participativo e político. Os Grupos de Trabalho (GTs) se dividiram por eixos. Em cada um desses espaços, histórias de dor se transformaram em propostas de futuro. O que mais chamou atenção foi a maturidade política dos participantes. Em um país onde o debate racial ainda é tratado com desconforto por muitos, ali, entre negros e negras, povos ciganos, povos originários, pessoas com deficiência, LGBTQIA+ e povos de terreiro, reinava o diálogo fraterno, mesmo diante de opiniões divergentes. Foi possível ver, na prática, o que é a ética comunitária negra: respeitar o outro, mesmo quando se discorda; escutar para transformar. As propostas debatidas e aprovadas na plenária final foram incisivas: ampliação do acesso à educação antirracista nas escolas, criação de políticas de proteção às religiões de matriz africana, combate à violência policial, regularização de territórios quilombolas, cotas raciais efetivas no serviço público e valorização da cultura negra como patrimônio vivo da nação. Cada deliberação carregava não apenas um desejo, mas uma exigência: o direito à vida plena para os povos negros.
Um Passo para o Brasil
A eleição dos delegados para a Conferência Nacional de
Promoção da Igualdade Racial foi o ato final, mas também o início de uma nova
etapa. Após sete anos de paralização — um hiato que reflete o retrocesso nas
políticas de direitos humanos no país —, a retomada desse espaço é um sinal de
esperança. E Goiás está entrando nesse processo com voz forte, pauta clara e
povo organizado. A presença de Comunidades de Povos Originários, pessoas com
deficiência, população LGBT+ e representantes de diversas esferas da sociedade
civil mostrou que a luta contra o racismo não é isolada: ela se entrelaça com
todas as batalhas por dignidade. A igualdade racial só será real quando for
interseccional.
Mensagem de Esperança
A 6ª Conferência Estadual de Promoção da Igualdade Racial de
Goiás não foi apenas um evento institucional. Foi um ato de resistência, um
**rito de fortalecimento coletivo, uma celebração da identidade negra. Foi a
prova de que, mesmo diante do descaso, da violência e da desigualdade, o povo
negro segue em pé — e não só em pé, mas avançando, propondo, liderando. A ATRACAR
se fez presente com a presença de Mãe Déia Talamugongo e representantes de
diversas cidades do Entorno de Brasília.
Que esta Conferência ecoe além dos muros do auditório onde foi realizada. Que suas propostas cheguem ao Congresso, aos governos estaduais e municipais, às escolas, às igrejas, aos lares. Que inspire outras conferências, outras mobilizações, outras formas de existir com orgulho.
“Enquanto houver um atabaque tocando, enquanto houver um negro sonhando, a luta não para. A gente resiste. A gente vence.”
Esta matéria é um tributo a todos os que caminham com
firmeza na estrada da igualdade. Aos babalorixás e iyalorixás que protegem
nossas almas. Às mães de santo que curam com ervas e fé. Aos jovens que ocupam
espaços com coragem. Às mulheres negras que são a espinha dorsal desse
movimento. A você, que lê e acredita que outro Brasil é possível. Seguimos!
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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