terça-feira, 2 de setembro de 2025

Olugbajé 2025: O Sagrado em Movimento no Ilê Asé Jagun Onigbejá Ti Osun

Por: Ògan Assogbá Luiz Alves

Águas Lindas de Goiás,  No dia 30 de agosto de 2025, sob um céu que parecia sussurrar antigos orikis ao vento, o Ilê Asé Jagun Onigbejá Ti Osun se transformou em um portal entre o visível e o invisível. A cerimônia do Olugbajé, um dos momentos mais solenes e esperados do calendário do Candomblé, ecoou como um canto ancestral, convocando os vivos, os mortos e os orixás para uma reunião de alma, memória e axé.

Sob a sábia direção da Iyálorixá Vilcylene de Jagun, o terreiro respirou devoção. Cada pedra, cada folha, cada toque de atabaque parecia carregar o peso sagrado da tradição, mas também a leveza do amor que só a mãe de santo sabe derramar sobre seu povo. A cerimônia, dedicada à presença e à essência de Omolú (Obaluaê), o Rei da Terra, o Senhor dos Caminhos e Curador dos Aflitos, foi muito mais do que um ritual — foi um abraço coletivo com o divino.

Omolú, frequentemente representado com o corpo coberto de palha, é o orixá que caminha entre os vivos e os mortos, que traz a doença para ensinar e a cura para redimir. No Olugbajé, ele não é apenas lembrado: ele está presente. E naquela noite, sob a meia-luz que envolveu o terreiro como um manto de mistério e reverência, era impossível não sentir seu passo firme, sua respiração profunda, seu olhar compassivo sobre todos os presentes.

A chegada das autoridades religiosas foi um sinal de respeito mútuo, de irmandade espiritual. Entre os muitos filhos e filhas do axé que honraram o momento com suas presenças, destacaram-se nomes que são pilares da comunidade afro-religiosa de Águas Lindas, Brasília e regiões adjacentes. Pai Ricardo e seus filhos, com a serenidade de quem sabe que o tempo é um aliado do sagrado; Babá Milá, com sua energia ancestral que conecta gerações; Pai Ivanildo de Xangô, cuja força ecoa como trovão em dias de justiça; Pai Wager de Oxumarê, arco-íris vivo entre o céu e a terra; Pai Wagner de Oxóssí, o caçador de equilíbrio e guardião das matas; Mãe Ana de Oxum, cuja doçura é um rio de benção; Babá Omisilê, com sua sabedoria silenciosa; Tata francisco N'Gunzetala; Pai Ashogum Carlos, cuja presença cativante ilumina qualquer terreiro; e Pai Alan Baloni de Ogum, com a coragem de quem abre caminhos com o machado da fé.


Cada um trouxe não apenas seu nome, mas seu axé, seu respeito, seu sangue de Orixá. E todos foram recebidos com o carinho que marcou o Ilê Asé Jagun Onigbejá Ti Osun como um lugar de acolhimento verdadeiro — onde ninguém é estranho, apenas irmão em transição espiritual.

O momento mais emocionante veio com o cortejo até a pracinha, onde seria servido o Olugbajé — o alimento consagrado a Omolú, preparado com todo o cuidado ritualístico, simbolizando a partilha entre o humano e o divino. À meia-luz, as cores das roupas rituais brilhavam como estrelas terrestres. Os atabaques pulsavam como corações coletivos. Os cantos em iorubá elevavam-se como fumaça de oferendas, tocando o infinito.

E então, no silêncio que precede o sagrado, o povo se reuniu em torno da mesa de Omolú. Nenhum gesto era casual. Cada toque, cada reverência, cada palavra entoada era um ato de amor, de resistência, de memória. Foi impossível conter as emoções, daquele tipo que vem quando se sente, de fato, parte de algo maior.

O Olugbajé é, acima de tudo, um lembrete: a vida é sagrada, mesmo na dor; a morte é sagrada, pois é passagem; e o povo é sagrado, porque carrega em si a chama dos ancestrais, o fôlego dos orixás, o axé que move mundos.Ao final, sob um céu agora pontilhado de estrelas, a Iyálorixá Vilcylene abraçou cada um, como uma mãe que sabe que seus filhos retornaram à fonte. E no meio daquela multidão, havia um sentimento claro: não éramos apenas visitantes de um ritual — éramos parte dele. Fomos recebidos, alimentados, curados.

O Ilê Asé Jagun Onigbejá Ti Osun, sob a liderança firme e amorosa de Iyá Vilcylene, mais uma vez mostrou que o Candomblé não é apenas uma religião — é arte, é política, é memória, é resistência, é amor em estado puro.


E no dia 30 de agosto de 2025, Omolú caminhou entre nós.  

E nós, por um instante, caminhamos com ele.


Axé!

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