"O Sr. da Terra, Omolú, reina soberano em agosto. Mês de colheita, de memória, de retorno ao sagrado solo que nos nutre e nos acolhe no fim da jornada. Agosto é o mês em que a Terra respira em nós, e nós respiramos nela. E, como se não bastasse tanta grandeza, agosto também é o mês da fotografia – arte que congela o tempo, que transforma instantes em eternidade, assim como o próprio Omolú, senhor dos ciclos, da vida e da morte, da transformação que nunca cessa."
E eu, filho de Obalwaiyê, mergulhado nesse fluxo sagrado, me encontro vivendo um verdadeiro Olubajé Fotográfico. Quatro exposições em um só mês, cada uma delas um prato servido no banquete do Rei, cada imagem uma oferenda de luz e memória.
Começou na Estação Central de Ceilândia, como parte do Projeto Latinidades de Jaqueline Fernandes, onde minhas fotografias dialogaram com a resistência e a beleza negra. Depois, no Museu Nacional da República, integrando o Festival Mês da Fotografia do Lente Cultural e curadoria de Luazi Luango, ao lado do afrofuturismo sonoro do Tardezinha do Samba de Marcelo Café. Em seguida, o Projeto Saberes da Casa Luz de Yorumá, da querida Mãe Leila (905 Norte), onde arte e espiritualidade se entrelaçaram em narrativas visuais. E, para fechar com axé, o Projeto Tardezinha do Samba na Casa do Cantador (Ceilândia), celebrando a cultura popular em sua essência mais pulsante.
Mas o que é um Olubajé Fotográfico, senão a própria magia de traduzir o sagrado em imagens?
Pensem comigo:
- A folha de mamona, onde se serve o Olubajé, é a câmera fotográfica – o receptáculo que guarda os elementos tecnológicos para capturar o instante.
- O deburú (pipoca) é o ISO – a sensibilidade diante da luz, assim como a pipoca estoura no fogo, revelando sua essência.
- O feijão preto é a composição – porque, assim como tudo fica completo com um feijão preto, uma foto ganha vida com uma composição bem planejada.
- O andê (paçoca de milho) é a velocidade – a energia que move, que transforma o milho em farinha, o momento em registro.
- O acaçá é o resultado final – a imagem pronta, sagrada, ofertada.
- O clique da câmera é o som dos atabaques tocando "Aê, Olubajé! Olubajé, ajé unbó!" – o momento em que a magia acontece.
- As poses são os movimentos do Opánijé – a dança, a expressão, a vida capturada em gestos.
E no centro de tudo, o Sr. cujo rosto brilha mais que o sol – Omolú, o dono da terra, é o flash e a luz ambiente, iluminando cada cena, cada história, cada fragmento desse universo maravilhoso que é a cultura afro-brasileira.
Que este mês de agosto nos lembre: somos terra, somos memória, somos luz. E, através da fotografia, eternizamos não apenas imagens, mas o próprio axé que nos move.
"Que Omolú nos cubra com Suas Palhas Sagradas, que nossas lentes jamais percam a sensibilidade diante do sagrado, e que cada clique seja um louvor à vida, à ancestralidade e à beleza que resiste."
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Àṣẹ Ô!
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A benção que lindo atotô
ResponderExcluirKolofé!
ExcluirSua benção, Ogan Luiz!
ResponderExcluirQue texto lindo!
E que paralelo bonito entre os rituais de pai Omolú e do fotógrafo!
🤍🤍🤍🤍🤍🤍
Kolofé!
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