Por: Ògan Assogbá Luiz Alves
Brasília, DF — No último sábado, o vento que soprou entre as árvores da Casa Luz de Yorimá trouxe mais do que folhas dançantes: trouxe promessa. A abertura do Projeto Quitanda Cultura e Saberes, conduzida pela sábia e acolhedora Mãe Leila, foi muito mais do que um evento — foi um abraço coletivo, um "aquece coração” em tempos de frio espiritual e distanciamento.
Localizada no 905 Norte, em pleno coração de Brasília, a Casa Luz de Yorimá, terreiro de Umbanda Iniciática, transformou-se, naquela tarde, em território de resistência, memória e celebração. O sol ainda quente beijava os rostos enquanto os primeiros passos marcavam a chegada de pessoas vindas de todas as direções — crianças, jovens, idosos, mães de santo, artistas, ativistas, curiosos e devotos. Todos unidos por um mesmo sentimento: o desejo de pertencer.
A abertura do projeto foi conduzida com a delicadeza que só Mãe Leila sabe imprimir. Sem cerimônia, mas com muita solenidade simbólica, ela acolheu cada visitante como se fosse um filho que volta para casa. “Aqui, a porta é aberta, o coração é grande e o axé é livre”, disse, entre sorrisos e abraços que pareciam curar feridas invisíveis.
Após um delicioso lanche — com quitandas feitas à mão, sabor de memória, bolo de milho, bolos de aipim, pães de queijo e sucos naturais —, o salão social do terreiro foi tomado pela magia do samba. E não foi qualquer magia: foi a magia do povo. Do nada, como se brotasse da própria terra, surgiram pandeiros, surdos, tamborins e agogôs. E então, a música tomou conta. Corpos se levantaram, pés batiam no chão, vozes se entrelaçavam em coro. O samba não apenas ecoou — ele encantou, ele libertou, ele reafirmou.
Foi nesse clima de alegria contagiante que foi apresentada a programação do Quitanda Cultura e Saberes, projeto que promete se tornar um marco na cena cultural afro-brasileira da capital federal.
Uma programação que alimenta a alma
A cada encontro, uma nova surpresa. O projeto se desdobra em uma série de atividades que misturam arte, ancestralidade, reflexão e convivência:
- Exposição e Oficina Fotográfica que revelam olhares potentes sobre a cultura afro-brasileira, mostrando rostos, histórias e resistências que muitas vezes são invisibilizados;
- Sessões de cinema para refletir, se emocionar e se conectar com narrativas que vêm do povo, da raiz, do sagrado;
- Apresentações culturais com jongo, coco de roda, samba de roda, bate-pé e rimas que ecoam a força da palavra ancestral;
- Oficinas que entrelaçam saberes tradicionais — como trança, culinária afro, artesanato e rituais — com experiências contemporâneas;
- Rodas de conversa para escutar, compartilhar e construir pontes entre gerações, religiões e saberes.
Tudo isso com entrada gratuita, porque, como diz Mãe Leila, “a cultura não tem preço — tem valor. E o valor dela é a vida que ela salva”.
Um projeto de raiz, feito com o corpo do povo
O nome “Quitanda” não é escolha à toa. Remete às pequenas vendas de rua, muitas delas mantidas por mulheres negras, que, além de vender quitandas, vendiam cuidado, conversa, conselho, remédio, proteção. A quitanda era — e ainda é — um ponto de encontro, de resistência, de economia popular e afetiva. É esse espírito que o projeto busca resgatar: o de um espaço onde se come, se canta, se cura, se educa, se resiste.
A Casa Luz de Yorimá, sob a direção espiritual e cultural de Mãe Leila, tem se consolidado como um dos mais importantes centros de preservação da religiosidade afro-brasileira no Distrito Federal. Mas vai além: é um espaço de acolhimento, de formação, de arte e de luta. E o Quitanda Cultura e Saberes é mais um passo nessa trajetória de afirmação identitária.
A convocação é para todos
O convite está feito. O chamado é claro: *vem somar*. Vem com sua história, com seu silêncio, com sua dor, com sua alegria. Vem dançar, pensar, comer, rezar, rir. Vem ser parte dessa travessia cheia de afeto e resistência.
As datas dos próximos encontros estão sendo divulgadas com carinho no Instagram [@luzdeyorima](https://www.instagram.com/luzdeyorima), onde cada post é um convite, cada imagem é um axé.
Porque, no fim das contas, o Projeto Quitanda Cultura e Saberes não é apenas um evento. É um movimento. É um lembrete: nossa cultura é viva, nossa tradição é forte, e nosso lugar é aqui.
Casa Luz de Yorimá
905 Norte, Brasília – DF
Entrada gratuita
Siga: [@luzdeyorima](https://www.instagram.com/luzdeyorima)
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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