Ontem (sábado, 07/06), o Parque Ecológico Canela de Emas, localizado em, região administrativa de Sobradinho, Distrito Federal, foi palco de um ato simbólico e político promovido pela comunidade afro-religiosa local. O evento, organizado pelo Coletivo Mulheres de Axé , teve como principal objetivo reafirmar a importância da preservação ambiental e exigir a regularização definitiva do parque , ameaçada por ocupações irregulares e descaso das autoridades.
Sob as lideranças de Mãe Ekédjí Virgínia de Exú , filha do Ilê Axé Orixá Dewí, e Mam'etu Zazy Leuacy , filha do Abassá de Zazy e filha de Oyá Dagã, o encontro contou com a presença de diversas casas de axé de Brasília, representantes de terreiros de candomblé e umbanda, além do apoio da Administração Regional de Sobradinho, Ile Asé Oya Bagan, Abassá de Zaze, Ilê Asé Orixá D'ewi, Casa São Lázaro, Ekede Ray do Ilê Asé Orixás D'ewi, Xwe Ibu Omi Sudan, Abassá de Oia Dagãn FOAFRO-DF. A iniciativa reflete o crescente protagonismo feminino dentro das religiões de matriz africana e seu papel central na luta por justiça ambiental e territorial.
Um grito de resistência ambiental
O Parque Ecológico Canela de Emas é uma área verde estratégica para o equilíbrio ambiental da região e também um espaço sagrado para a comunidade de axé. “Nossa relação com a natureza vai muito além do cuidado — é uma ligação espiritual. Como dizemos em nossos itãs: ‘sem folha não há iyawós’ . Não somos nada sem a natureza”.
A preocupação com o meio ambiente entre as religiões afro-brasileiras não é nova. Há séculos, os terreiros mantêm práticas de cultivo sustentável, uso consciente de recursos naturais e respeito aos ciclos da terra. Hoje, diante do avanço do desmatamento, da poluição e da grilagem de terras, essa ancestral sabedoria se torna ainda mais urgente.
“Estamos aqui para lembrar que a luta pelo meio ambiente é nosso dever sagrado. Se não cuidarmos da terra, ela não nos alimentará. Se não protegermos as águas, não teremos vida. Este parque precisa ser preservado não só por nós, mas por toda a população que vive perto dele”, disse Mametu Zazy.
Racismo religioso tenta calar vozes
Apesar do clima de celebração e união, o evento foi marcado por um episódio lamentável de racismo religioso . Ao chegarem ao parque, membros da comunidade foram recebidos por uma pessoa que gritava: “Aqui não!”. A frase, carregada de exclusão e ódio, ecoou como um golpe simbólico na história de perseguição sofrida pelas religiões de matriz africana no Brasil.
“A tentativa de nos expulsar de um espaço público é absurda. Isso é mais uma tentativa de nos confinar nas senzalas do preconceito e da ignorância. Nossa religião é brasileira, é ancestral e tem tanto direito a este chão quanto qualquer outra”, segundo o editor deste blog Ògan e Assogbá Luiz Alves ao saber do ocorrido.
Denúncias de degradação ambiental e exploração irregular
Durante o ato, lideranças religiosas e moradores locais também denunciaram a exploração irregular de parte do parque por interesses privados , além do despejo ilegal de dejetos e esgoto na lagoa existente no local . Esses fatores colocam em risco tanto o ecossistema local quanto a saúde da população vizinha.
“Esse parque é importante não apenas para os rituais e práticas religiosas, mas também para o bem-estar coletivo da comunidade. É um pulmão verde em meio à cidade. Precisamos urgentemente que o poder público tome posição e garanta a regularização e fiscalização do espaço”, destacou Mãe Baiana, representante do Ilê Axé Oyá Bagã do Paranoá e Coordenadora da RENAFRO-DF.
Uma causa de todos
O movimento em defesa do Parque Canela de Emas ultrapassa as fronteiras do terreiro e toca a todos os moradores da região. “Defender esse espaço é defender o direito de todos ao acesso à natureza, à saúde e ao futuro. Não vamos permitir que interesses escusos e a ganância destruam o que é nosso por direito e por ancestralidade”, concluiu Mãe Ekédjí Virginia de Exú.
A comunidade segue mobilizada e já prepara novas ações políticas e jurídicas para garantir a proteção definitiva do Parque Ecológico Canela de Emas , exigindo do governo federal e do DF medidas concretas de preservação ambiental e punição dos responsáveis pela degradação do local.
Que os orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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Que matéria maravilhosa, gratidão Pai por sempre colocar em palavras o que vivenciamos. Apoiem essa página que fala de nós e sobre nós. Aweto ❤️
ResponderExcluirAqui Christine Alves Bastos (Mam'etu Zaze)
ResponderExcluirMatéria muito linda sobre o coletivo de mulheres e o Parque Canela de Ema! Parabéns pela iniciativa, infelizmente não pude comparecer nesse , mas no próximo estarei sim!
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