Por Ògan Asogbá Luiz Alves - PROJETO ONÍBODÊ
Em um encontro histórico na sede da Fundação Cultural Palmares, em Brasília, Brasil e Nigéria selaram uma aliança sem precedentes no campo da memória, ancestralidade e espiritualidade. A visita oficial do secretário do governo da Nigéria, Otunba Ajiboye, acompanhada pela presença simbólica da realeza iorubá, marcou o início de uma nova era nas relações entre o continente africano e sua diáspora — especialmente aquela que, há séculos, mantém viva a chama dos orixás nas terras brasileiras.
O ponto emocionante do evento foi a apresentação de uma mensagem em vídeo de Sua Majestade Imperial Ooni Ile Ifé , rei da cidade de Ilê Ife, uma figura central da tradição iorubá, dirigida diretamente ao povo brasileiro. Sua fala ecoou como um chamado ancestral, lembrando que os laços entre África e Brasil nunca foram rompidos — apenas adormeceram sob o peso da história colonial, Sua Alteza Real também convidou os brasileiros a voltarem para sua Terra Mãe.
“Os orixás não estão apenas na Nigéria ou no Brasil. Eles estão onde seus filhos e filhas os invocam com verdade. Que este congresso seja o encontro das raízes com os frutos.”
Um ato político, espiritual e simbólico
A solenidade não foi apenas uma formalização diplomática. Foi um ato político, espiritual e simbólico de reconhecimento. Pela primeira vez, o governo nigeriano manifesta interesse direto em estabelecer vínculos institucionais com casas de matriz africana no Brasil, reconhecendo-as como pilares vivos da resistência cultural, da transmissão oral e das práticas ancestrais.
O anúncio do Congresso Mundial de Orisa, que será construído na Terra Sagrada de Osun, é mais do que um projeto arquitetônico ou turístico. Trata-se de uma cidade afrofuturista, dedicada à preservação dos saberes tradicionais, ao culto dos Orixás e ao fortalecimento das lideranças espirituais da diáspora. Um espaço onde a história se transforma em futuro, e onde a ancestralidade se torna programa de Estado.
“Essa aproximação se dá num momento crucial”, afirmou João Jorge Rodrigues, Presidente da Fundação Palmares. “Um governo africano reconhece, de forma inédita, as casas de axé e suas lideranças. O Congresso Mundial de Orisa é um passo concreto rumo à reparação e à reconstrução de vínculos históricos.” Sua fala ecoa como um grito de legitimidade para quem há décadas luta por visibilidade, respeito e reconhecimento.
Uma ponte entre passado e futuro
Para Otunba Ajiboye, secretário do National Institute for Cultural Orientation, vinculado ao Ministério da Cultura da Nigéria, a iniciativa é parte de um movimento maior: "A herança iorubá une Nigéria e Brasil de forma profunda. Muitos brasileiros já participam de festivais como Osun Oshogbo e Sango. Queremos ampliar essa relação com o povo de axé."
É uma declaração ousada, carregada de significados. Não se trata apenas de turismo religioso ou cultural, mas de um convite para que os filhos e filhas de Orisa no Brasil assumam seu papel central na construção de uma narrativa coletiva, que transcende fronteiras geográficas e temporais.
Embaixador Interino da Nígéria abre as portas da Embaixada para os brasileiros
Em um ato de solidariedade, amor e fraternidade o Embaixador Interino da Nigéria Sr Basil Maduka Okolo coloca a Embaixada à disposição do povo brasileiro como forma de estreitamento de laços e afetividade.
Ajoyemi Osunleye, presidente da Casa Herança de Oduduwa, definiu o momento como histórico: “Pela primeira vez, um governo africano se aproxima oficialmente dos filhos de Orisa no Brasil e na diáspora. Isso em um ano que a União Africana dedica à justiça e às reparações.”
Mãe Baiana: “Este é um sonho antigo que começa a se concretizar”
Na ocasião, a voz feminina também teve seu lugar de destaque. Mãe Baiana de Oyá, representante do candomblé de Brasília, expressou sua emoção diante da iniciativa:
“Parabenizo Otunba pela coragem de reconhecer nossas raízes e agradeço ao presidente João Jorge Rodrigues por ser o mediador desse encontro. Esta conexão é essencial para todos que cultivam as tradições de matriz africana. Como filha de Iansã, declaro que este projeto, que considero um sonho antigo, será concretizado com coragem e honra. Porque estamos falando de nossa origem, de nossa identidade e de nossa força.”
Sua fala, embora curta, reverbera como um mantra de empoderamento e pertencimento. Em cada palavra, está a certeza de que a ancestralidade não é algo do passado, mas uma energia viva que move povos e nações.
Uma reparação simbólica e política
O encontro desta quinta-feira não pode ser compreendido apenas como mais um evento diplomático. Ele consolida um gesto de reparação simbólica e política. Ao estabelecer uma ponte direta entre governos, instituições e lideranças espirituais, Brasil e Nigéria reafirmam a importância da ancestralidade como fundamento vivo para uma cooperação internacional sólida, duradoura e comprometida com a justiça histórica.
Luzi Borges, representante do Ministério da Igualdade Racial, sintetizou com clareza esse sentimento: “É uma honra integrar esse momento histórico. A presença do Ministério se dá pelo compromisso com a construção de pontes espirituais, culturais e institucionais entre Brasil e Nigéria.”
Um novo tempo começa
O Congresso Mundial de Orisa não é apenas um evento. É um chamado urgente para que o mundo veja, finalmente, os povos africanos e seus descendentes com os olhos da dignidade, da igualdade e do respeito mútuo.
Estando sediado na Terra Sagrada de Osun, o projeto promete ser um farol para a diáspora, um ponto de convergência de saberes, rituais e resistências. Será um espaço onde o passado se faz presente, onde o sagrado se manifesta livremente, e onde a história volta a ser escrita pelas mãos de quem sempre a manteve viva: os filhos e filhas de Orisa.
SitesPara saber mais sobre o Congresso Mundial de Orisa e acompanhar os próximos passos dessa iniciativa histórica, acesse:
[https://nico.gov.ng/](https://nico.gov.ng/)
Redes: [@worldorishacongress](https://www.instagram.com/worldorishacongress) | [@casaherancadeoduduwa](https://www.instagram.com/casaherancadeoduduwa)
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Que os orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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