segunda-feira, 13 de outubro de 2025

VOZES DO CERRADO RUMO À COP30: IYÁS DO DF E TERRITÓRIOS, LEVANTAM A VOZ PELA NATUREZA, PELA FÉ E PELO FUTURO

Por Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Brasília, 11 de outubro de 2025 — Na sexta-feira, 10 de outubro, o coração do Cerrado pulsou com força ancestral. No encontro “Vozes do Cerrado Rumo à COP30”, realizado em Brasília, as Iyás do Coletivo das Iyás do DF e Entorno, representando também a RENAFRO-DF e a RENAFRO Nacional, ocuparam com dignidade, sabedoria e firmeza os espaços de decisão ambiental. Pela primeira vez em um evento oficial rumo à Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), as vozes das mulheres de matriz africana foram ouvidas não como coadjuvantes, mas como protagonistas essenciais na defesa da vida, da biodiversidade e da espiritualidade ligada à Terra.

O evento, marcado por uma atmosfera de respeito mútuo e escuta ativa, reuniu lideranças femininas de todo o país, com destaque para a presença da Primeira-Dama do Brasil, Janja Lula, que atua como embaixadora da COP30. Em sua jornada pelo Brasil, Janja tem percorrido territórios para ouvir as mulheres — indígenas, quilombolas, ribeirinhas, camponesas e em Brasília também com a participação das religiosas de matriz africana — com o objetivo de construir um documento nacional que traduza as prioridades ambientais sob a ótica feminina.

 “Sem Ervas, Não Existe Orixá”: A Espiritualidade como Guardiã do Cerrado

O primeiro painel do encontro foi marcado pela fala poderosa de Mãe Vilcilene de Jagun, integrante do Coletivo das Iyás e representante da RENAFRO. Com a voz firme e os olhos cheios de ancestralidade, ela afirmou:  

 “Nossa comunidade afro-religiosa está intrinsicamente ligada à natureza. Sem ervas, não existe Orixá. Essa é uma das nossas mais antigas verdades. Defender o Cerrado, suas águas, suas plantas e seus animais é defender nossa fé, nossa cultura e nossa existência.”

Sua fala ecoou profundamente entre as presentes, reforçando que a destruição ambiental não é apenas uma crise ecológica, mas também uma violação espiritual e cultural. As Iyás destacaram que os terreiros, muitas vezes localizados em áreas de proteção ambiental ou em zonas de conflito fundiário, são verdadeiros santuários de conservação da biodiversidade — e, ao mesmo tempo, alvos constantes de intolerância religiosa e especulação imobiliária.


 A Luta por Espaço nas Decisões


Uma das críticas mais contundentes do encontro veio de uma das participantes, que denunciou:  

 “As mulheres discutem, elaboram programas, constroem propostas... mas quem decide se essas propostas serão cumpridas ou não são homens, brancos e ricos que dominam o universo político e ambiental.”


Diante disso, Janja Lula assumiu um compromisso histórico:  

 “Desta vez, será uma mulher quem entregará o plano à COP30. E não apenas entregará — terá o direito de decidir pelo seu cumprimento.”

A promessa foi recebida com aplausos emocionados. Para as Iyás, trata-se de um passo concreto rumo à descolonização das políticas ambientais e ao reconhecimento de que a sabedoria feminina, negra e ancestral é fundamental para a sobrevivência do planeta.

Presenças que Fortalecem a Luta









O encerramento do encontro contou com a presença de ministras e ministros do Governo Federal, reforçando o compromisso interministerial com a agenda ambiental e de justiça social. Entre elas, Marina Silva (Meio Ambiente), Sônia Guajajara (Povos Indígenas) e Anielle Franco (Igualdade Racial) entre outros e outras — todas mulheres negras que simbolizam uma nova era de governança inclusiva.

Para o Coletivo das Iyás do DF e Territórios, o convite para este encontro representa muito mais que uma participação simbólica. É o reconhecimento institucional de sua luta histórica pela proteção dos territórios sagrados, pela garantia de direitos e pela valorização das Religiões de Matrizes Africana como pilares da sustentabilidade cultural e ecológica do Brasil.

Rumo à COP30 com Axé, Água e Verdade

Enquanto o mundo se prepara para a COP30, o Brasil mostra que pode liderar com sabedoria ancestral, justiça de gênero e respeito à diversidade. As Iyás do Cerrado deixaram claro:  

 “Não somos apenas guardiãs dos Orixás. Somos guardiãs da Terra. E nossa voz não será mais silenciada.”

Com ervas nas mãos, água nas quartinhas e axé no peito, as mulheres do Coletivo das Iyás seguem rumo à Belém do Pará — e ao futuro — não como convidadas, mas como protagonistas da mudança que o planeta tanto precisa.

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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