Por: Ògan Assogbá Luiz Alves PROJETO ONÍBODÊ
PLANALTINA DE GOIÁS, 19 de julhode 2025 — Sob o céu aberto de Planaltina de Goiás, onde o tempo parece parar para ouvir as vozes dos antigos, o vento soprou manso e trouxe com ele o cheiro do mato, da terra molhada e da memória viva dos Ancestrais. No recinto sagrado do Ilê Axé Tenda de Oxum – Caminho de Ouro, um encontro especial ecoou entre tambores, saudações e lágrimas contidas nos olhos daqueles que vieram agradecer, pedir e se reconectar com o que há de mais sagrado: a ancestralidade, a fé e a força coletiva.
O dia amanheceu com promessa de encantamento. A roda de saudações aos Ancestrais foi o primeiro ato de uma cerimônia que uniu tradição, espiritualidade e resistência. Cada passo dado em direção ao terreiro era um ato de reverência. Cada voz que se ergueu em círculo era um canto de resistência — aquele que ecoa desde os tempos da senzala, atravessando séculos, mas que não se cala.
E então, como se o próprio tempo se curvasse para recebê-lo, Seu Zé Vaqueiro das Almas chegou. Dono da festa, guardião de histórias, boiadeiro de almas e coração livre. Sua presença foi recebida com aplausos, danças e um silêncio respeitoso que se fez no momento exato de sua entrada. Afinal, diante de quem carrega em si o peso e a leveza de tantos anos de caminhada, o que se faz é ouvir — e sentir.
Com ele vieram os convidados, aqueles que, como ele, carregam em si o legado de quem nunca esqueceu de onde veio. Entre eles, Pai Toninho de Oxum, que conduziu os trabalhos com maestria e sabedoria, guiando os presentes pelas veredas espirituais com a leveza de quem sabe que a força não está no grito, mas na intenção. Também estiveram presentes Pai Gladson de Omolú, avô de Mãe Sheila, e Pai Willian de Oxumarê, que juntos compuseram um time de Pais de Axé cuja energia era palpável no ar.
O cheiro do Mocotó do Seu Zé Vaqueiro das Almas se misturou ao incenso e ao suor daqueles que vieram de longe. Um prato simples, mas cheio de significado — como ele mesmo, que não precisa de luxos para ser grande. Cada colherada era um agradecimento, cada prato servido era uma promessa cumprida, um voto de gratidão à vida e aos Orixás.
A alegria era contagiante. Crianças corriam entre os adultos, os mais velhos sorriam com os olhos marejados, e os jovens, mesmo sem entender inteiramente a magnitude do momento, sentiam na pele o peso e a força daquela energia. Ali, não havia divisão de gerações — havia apenas comunhão.
Seu Zé Vaqueiro, com sua voz calma e sua fala carinhosa, falou ao coração de cada um. Ele não precisou erguer o tom para ser ouvido. Suas palavras foram como água fresca no meio do sertão: alívio, conforto, direção. "O importante é que a gente não esqueça de onde veio", disse ele, entre sorrisos e abraços apertados. E cada um ali, de alguma forma, entendeu que aquilo era mais do que uma homenagem — era um reencontro com a própria essência.
Sob o olhar atento de Mãe Sheila de Oxum, guardiã do Ilê Axé Tenda de Oxum – Caminho de Ouro, o terreiro vibrou com a força dos Orixás e a presença dos que acreditam. Mãe Sheila, com sua postura firme e coração aberto, soube conduzir o espaço como uma verdadeira rainha de Oxum — acolhendo, protegendo, iluminando.
Este foi mais do que um toque em homenagem. Foi um grito de resistência. Um ato de amor à ancestralidade. Uma celebração da vida em sua forma mais pura. E, acima de tudo, uma prova de que a cultura e a religiosidade afro-brasileira não só resistem, mas se multiplicam, se fortalecem e se renovam a cada encontro como esse.
Seu Zé Vaqueiro das Almas, com seu chapéu e alma de gigante, deixou claro: o boiadeiro não anda só pelas estradas do sertão. Ele caminha também pelas veredas do sagrado, guiando almas, abençoando caminhos e lembrando a todos que, mesmo em tempos tão incertos, há força no encontro, no abraço e na saudação aos Ancestrais.
Que Oxum continue derramando suas águas doces sobre esse terreiro. Que Omolú mantenha a saúde em todos os corpos. Que Oxumarê traga renovação constante. Que todos os Orixás continuem protegendo esse legado — e que Seu Zé Vaqueiro das Almas continue, por muitos anos ainda, nos lembrando de onde viemos e para onde devemos seguir.
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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Somos privilegiado com nossa ancestralidade, é muito amor ,que ninguém nos cale!!!somos fé,somos resistência
ResponderExcluirFoi muito lindo, cheio do axé
ResponderExcluirTão gratificante louvar a nossa ancestralidade!!!somos ricos de amor e acolhimento,somos resistência de pura de fé
ResponderExcluirUma festa muito linda e com muito carinho e axé.
ResponderExcluirÉ uma honrar poder participar de um evento tão lindo, feito com muito amor e axé. Xetruar Zé boiadeiro das Almas
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