sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo”: Exposição na ALEGO revela beleza das religiões de matriz africana — e o ódio que insiste em apagá-las


Por Ògán Assogbá Luiz Alves / PROJETO ONÍBODÊ 

Na tarde dessa sexta-feira (07), sob o sol forte que já aquecia Goiânia e os corredores da Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO), caminhamos eu, Ògán Assogbá Luiz Alves  representando o FOAFRO-DF e o COLETIVO DEFENSORES DO AXÉ, e meu irmão de axé, Ògán Felix Odé Somi  da ATRACACAR-GO com passos firmes e coração aberto rumo à exposição “O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo”. Uma obra viva. Um ato de resistência estética, espiritual e política. Uma coletiva que não apenas mostra, mas convoca: a ver, a sentir, a honrar.

Idealizada pelo COLETIVO ONÃ, com apoio essencial do gabinete do deputado estadual Marco Rubem (PT) e seu Mandato Coletivo, a mostra é uma ode à diversidade religiosa, ao sagrado que pulsa nos atabaques, nas roupas brancas tingidas de sangue ancestral, nos oríkís sussurrados, nas oferendas cuidadosamente dispostas. Lá estão presentes: os panos de assentamento de Orixás, o , as contas de Iansã tremulando ao vento simbólico da instalação, roupas de Nosso Sagrado, utensílios sacros; fotografias que capturam não apenas rostos, mas presenças mães e pais de santo, filhos de santo, ogãs, ekedis, aborôs  todos, cada um, corpo de religião, memória em movimento.

A exposição é, antes de tudo, um ato de reparação simbólica. Num país que por mais de 300 anos criminalizou nossas cerimônias, que transformou templos em esconderijos e línguas em sussurros, “O Olho de Vidro…” diz, com a clareza do vidro e a intensidade do fogo: estamos aqui. Vivemos. Existimos. E somos belos.

Mas, como todo momento de visibilidade é campo de batalha no Brasil racista, a beleza foi atacada.

O deputado estadual amauri ribeiro (União Brasil) sim, escrevo seu nome com todas as letras, mas de forma intencionalmente minúscula, não por descuido gráfico, mas por recusa ética em erguer quem escolhe o ódio como discurso  subiu à tribuna da ALEGO e, com a frieza de quem já ensaiou o preconceito, chamou a exposição de **“demoníaca”**.

Demoníaca?  

Quem criou o demônio foi o cristianismo — como metáfora moral, como instrumento de controle, como arma teológica contra os “outros”. A palavra não existe em yorùbá, nem em kikongo, nem em ewe. Nas culturas de onde brotam nossas religiões, há Ajogun (forças desafiadoras), há Iyámi Òsorongá (poderosas guardiãs da justiça cósmica), há equilíbrio entre luz e sombra — mas não há diabos. Essa noção dualista, maniqueísta, é importação colonial — e sua utilização aqui é pura violência simbólica. É reduzir o sagrado ao medo. É desumanizar o outro para justificar exclusão de quem não pensa igual a sua bolha e também para justificar a sua própria e insignificante existência.


Ele não exerceu “direito de expressão”.  

Ele cometeu crime de racismo religioso  previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/89, que tipifica como crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

E pior: ele o fez no exercício do mandato, dentro da Casa que deveria zelar pela Constituição — que, em seu Artigo 5º, incisos VI e VII, garante a liberdade de crença, o direito à proteção dos locais de culto e das liturgias, e proíbe qualquer forma de discriminação.




Nós, afro-religiosos, não somos minoria silenciosa.  

Somos mais de 1,2 milhão de pessoas, segundo o IBGE — e esse número é subestimado, pois muitos ainda se escondem por medo. Somos eleitores. Somos contribuintes. Somos trabalhadores, mães, pais,  professores, artistas, médicos, engenheiros, servidores públicos e também sacerdotes e sacerdotisas de uma tradição milenar que cura, acolhe, educa e resiste.

Não aceitamos mais o “respeito condicional”:  

“Respeito sua religião, mas não quero ver no espaço público”  

“Desde que não façam barulho…” 

“Enquanto não misturarem com política…” 


O que há de mais político que o direito de existir sem medo?


Chamado à Ação Nacional  

Diante dessa ofensa institucional, lançamos aqui um ATO DE RESISTÊNCIA COLETIVA:


1. Denúncia formal junto ao Ministério Público do Estado de Goiás, requerendo apuração por crime de racismo religioso e abuso de autoridade.  

2. Mobilização nacional: pedimos a todas as casas de axé, terreiros, umbandistas, candomblecistas, batuqueiros, xangôs, tambor de mina, juremeiros — e a todas as organizações de direitos humanos — que entrem com representações criminais contra o deputado Amauri Ribeiro por apologia ao racismo religioso.  

3. Petição pública online exigindo abertura de CPI do Racismo Religioso na Assembleia de Goiás — para investigar não apenas esse episódio, mas o padrão de perseguição sistemática contra comunidades tradicionais no estado.  

4. O Olho De Vidro Contra O Racismo: uma campanha nacional nas redes com fotos de terreiros, sacerdotes e devotos segurando um espelho ou vidro, com a frase: “Meu olho te vê. Meu axé te julga. Minha fé não pede licença para existir.”


A exposição “O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo” permanece aberta até o dia 20 de novembro Dia da Consciência Negra. E não por acaso: é convite para que todos venham, vejam, sintam — e saiam transformados.


Porque não há “demonização” que resista à força de um Ògan cantando ponto de Ogum e uma Ekédjí tocando um adjá,  

Não há discurso de ódio que suporte o brilho de uma coroa de Oxóssi,  

E não há deputado, por mais alto que erga seu chapéu, que possa apagar o fogo sagrado que arde em nossos peitos desde antes da colonização.

Nós somos o sagrado vivo.  

E o sagrado, quando ofendido, responde com justiça, com memória, com axé.


👉 Visite a exposição. Denuncie o racismo. Honre seus ancestrais.  

📍 ALEGO — Goiânia, até 20.11.2025  

✊ Axé é poder. E poder, quando coletivo, é imparável.


Ògán Assogbá Luiz Alves 

Fotojornalista e Fotodocumentarista, Ògán de Odé, integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), COLETIVO DEFENSORES DO AXÉ, FORAFRO-DF E HOMENS DE AXÉ DA RENAFRO  

Odé Somi Felix  

ÒgAn de Odé, Vice Presidente e Idealizador da ATRACAR-GO, PROFESSOR, HISTORIADOR, PESQUISADOR e ativista cultural  


Com o respaldo espiritual de todos os Orixás, Voduns, Inkices e Guias — e o apoio político de quem ainda crê que o Brasil pode ser justo.

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

*APOIE, DIVULGUE E INCENTIVE O ONÍBODÊ (O PORTEIRO) por uma comunicação ANTI-FACISTA, ANTI-RACISTA e de apoio à Nossa Comunidade Negra e Afro Religiosa com doações a partir de R$25,00 (vinte e cinco reais)*

CLIQUE NO LINK ABAIXO PRA APOIAR

  https://apoia.se/projetoonibode

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Dê sua opnião para que possamos melhorar nosso trabalho.