Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ
Brasília, outubro de 2025 – A trajetória da Professora de Artes Lidi Leão é um emblemático retrato dos desafios e das vitórias na implementação da Lei 10.639/03. No final de 2023, a educadora foi alvo de um processo administrativo após realizar um trabalho pedagógico com seus alunos baseado na obra "Procissão dos Oríxás", do consagrado artista Carybé. A atividade, inserida nas comemorações do Mês da Consciência Negra, consistia em uma representação performática da obra, onde os estudantes, vestidos como as figuras sagradas, caminhavam sobre um tapete de folhas de mangueira e finalizavam a cena como estátuas vivas.
A iniciativa, que visava valorizar a cultura e a estética afro-brasileira, foi erroneamente interpretada por terceiros como "proselitismo religioso". O caso gerou represálias contra a professora, evidenciando a fragilidade com que as leis que instituem o ensino da história e cultura africana e afro-brasileira são, por vezes, recebidas em certos setores da sociedade.
Diante da injustiça, a sociedade civil organizada moveu-se. O FOAFRO-DF e o Coletivo Defensores do Axé, através de seu coordenador, prontamente ofereceram apoio integral à professora. Como ato de resistência e esclarecimento, uma nova apresentação foi organizada, desta vez aberta ao público. O evento contou com a presença de representantes da OAB-DF, da Federação de Umbanda e Candomblé de Brasilia e Entorno, de associações de moradores e de grupos do movimento negro, que atestaram o caráter estritamente cultural e pedagógico da atividade. Um debate posterior reforçou a legitimidade da ação, ancorada na Lei 10.639/03.
A ironia e a disparidade de tratamento ficaram ainda mais explícitas com o relato de que, na mesma escola, um evento intitulado "Recreio com Jesus", que incentivava a leitura da bíblia e a realização de cultos durante o horário de recreio, ocorria sem qualquer impedimento.
Agora, a justiça pedagógica e o compromisso com uma educação antirracista são finalmente reconhecidos. A Professora Lidi Leão será uma das homenageadas do 3º Prêmio Paulo Freire de Educação, que ocorrerá na próxima terça-feira, 21 de outubro, às 19h, no Teatro Pedro Calmon (Setor Militar Urbano). Em um gesto de gratidão e reconhecimento pelo apoio decisivo, a educadora convidou o Coordenador do FOAFRO-DF e do COLETIVO DE WHATSAPP DEFENSORES DO AXÉ, Ògan Assogbá Luiz Alves para subir ao palco e receber a honraria ao seu lado.
A história da Professora Lidi transcende a sua pessoa. Ela simboliza a luta diária de milhares de educadores para descolonizar os currículos e construir uma escola verdadeiramente plural, onde a cultura afro-brasileira não seja criminalizada, mas celebrada como parte fundamental da nossa identidade nacional. Da repressão ao mais alto reconhecimento, sua jornada é um testemunho de que a resistência, quando coletiva, floresce em vitória.
Sobre o Prêmio Paulo Freire: Concedido pela Comissão de Educação da Câmara Legislativa do Distrito Federal, o prêmio visa valorizar projetos e profissionais que se destacam na promoção de uma educação pública, democrática, laica e de qualidade, seguindo os princípios do patrono da educação brasileira.
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Cartaz da apresentação na Escola CED310 em Santa Maria - DF |
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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