Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/ PROJETO ONÍBODÊ
Há mais de uma década, enquanto o Brasil se entrega aos trios elétricos, marchinhas e blocos comerciais, um outro Carnaval floresce com força silenciosa — mas poderosa — nas Mansões Lago do Descoberto, em Águas Lindas de Goiás. Longe dos holofotes e dos investimentos públicos, mas pleno de ancestralidade, fé e criatividade, o Carnaval de Terreiro, proposto pela Associação Ilé Asé Jagun Onigbejá ti Oșun e conduzido pela Iyá Vilcilene de Jagun (que também participa da RENAFRO CENTRO -OESTE, COLETIVO DAS IYÁS DE BRASÍLIA e a ATRACAR - GO) e pelos filhos e filhas de AXÉ do Ilé Asé Jagun Onigbejá, transforma o período carnavalesco em um ato sagrado de celebração, resistência e pertencimento.
Localizada em uma região periférica, distante do centro urbano e historicamente negligenciada por políticas públicas de cultura e lazer, a comunidade das Mansões Lago do Descoberto encontra no Carnaval de Terreiro não apenas entretenimento, mas um espaço de afirmação identitária, educação religiosa e fortalecimento comunitário. “Ninguém vem até aqui com propostas de cultura. Então, nós mesmos criamos a nossa”, afirma Iyá Vilcilene, com a serenidade e firmeza de quem há anos planta sementes de ancestralidade em solo árido.
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| Iyá Vilcilene de Jagun o carnaval recheado de afroafeto | 
Um Carnaval que nasce do Axé
O projeto surgiu espontaneamente, há mais de 10 anos, como uma resposta espiritual e comunitária ao vazio deixado pela ausência de políticas culturais na região. Inspirado nas tradições dos terreiros de candomblé, onde o Carnaval é vivido como um tempo de conexão com os Orixás .
“Nosso Carnaval não é só festa. É oração vestida de alegria”, explica Iyá Vilcilene. "É o momento em que abrimos os portões do Ilé para acolher a comunidade, para mostrar que a religião de matriz africana também celebra a vida com cor, música e respeito.”
Resistência em tempos de intolerância
Em um contexto nacional marcado pelo crescimento do racismo religioso e pela marginalização de práticas afro-brasileiras, o Carnaval de Terreiro assume um caráter profundamente político. Ao ocupar o espaço público — ainda que de forma local e comunitária — com tambores, atabaques, roupas brancas e saias coloridas, o Ilé Asé Jagun Onigbejá afirma sua existência e sua legitimidade. Crianças, jovens, mães, pais e anciãos participam ativamente da organização, da confecção de roupas rituais, da preparação de comidas de santo e da transmissão oral de histórias e cantigas.
“Muitos aqui nunca tinham visto um orixá de perto. Hoje, as crianças sabem quem é Oxum, sabem cantar para Iansã. Isso é educação afrocentrada”, ressalta uma das filhas de santo do terreiro.
Um farol cultural no Entorno do DF
Apesar da distância geográfica e simbólica do centro da cidade, o projeto tornou-se referência cultural na região do Entorno do Distrito Federal. Ao longo dos anos, o Carnaval de Terreiro foi ganhando corpo: passou de uma celebração interna a um evento aberto à comunidade, com rodas de samba de raiz, oficinas de percussão, contação de histórias de Orixás e exposições sobre a história do candomblé no Brasil.
A ausência de apoio governamental nunca impediu o florescimento da iniciativa. Pelo contrário: fortaleceu o espírito coletivo. “Tudo é feito com o que a gente tem, com o que a comunidade traz. Até as flores para os orixás vêm das casas dos vizinhos”, conta Iyá Vilcilene, com orgulho.
Preservação viva da cultura afro-brasileira
Mais do que um evento sazonal, o Carnaval de Terreiro é um ato contínuo de preservação da memória afro-brasileira. Em um país que ainda luta para reconhecer a contribuição dos povos africanos para sua formação cultural, iniciativas como essa são fundamentais para garantir que tradições, línguas, ritmos e espiritualidades não se percam.
“A cultura afro não está só nos museus. Ela está viva, pulsando nos terreiros, nas ruas, nas vozes das crianças que aprendem a tocar atabaque”, afirma Iyá Vilcilene. “E enquanto houver um tambor batendo aqui nas Mansões Lagro, o axé vai continuar girando.”
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| A Família Ilé Așé Aràjinán també se somou ao Carnaval de Terreiro, assim como outros Ilês. | 
Um legado em construção
Hoje, o Carnaval de Terreiro é mais do que uma tradição local: é um símbolo de resistência, um espaço de cura coletiva e um exemplo de como a cultura pode florescer mesmo em territórios esquecidos. Enquanto aguarda o reconhecimento institucional que merece, o Ilé Asé Jagun Onigbejá segue sua missão com fé, coragem e muito axé — provando que, mesmo longe do centro, é possível ser o coração de uma comunidade.
E quando os tambores soarem novamente no próximo Carnaval, nas Mansões Lago do Descoberto, não será apenas uma festa. Será um ato de amor à ancestralidade, à cultura e à vida.
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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