Por Ògan Assogbá Luiz Alves - Projeto Oníbodê
Neste último fim de semana, o Teatro Newton Rossi, no Sesc Ceilândia, foi palco de um poderoso ritual cênico: o espetáculo "Corpo Fechado", apresentado pela Cia. Semente de Teatro do Gama em parceria com estudantes do Centro Educacional 08 do Gama. Mais do que uma peça teatral, a montagem se configurou como uma "reza de proteção contra o racismo", ecoando as vozes da juventude negra do Distrito Federal em um grito de existência e resistência.
Com direção de Valdeci Moreira e elenco formado por alunos da rede pública, "Corpo Fechado" é fruto de cinco meses de oficinas que mesclaram arte, ancestralidade e educação antirracista. A dramaturgia, viva e pulsante, trouxe à tona narrativas urgentes, desconstruindo estereótipos e libertando a corporeidade negra em toda sua potência. A ginga, a oralidade e o maneirismo periférico foram elevados à condição de arte, em uma estética que dialoga diretamente com a pedagogia dos terreiros.
Um Teatro que Vem do Chão da Escola
A peça reforça a importância da educação antirracista não apenas como teoria, mas como prática cotidiana. Como destacado no release, a Cia. Semente de Teatro do Gama e o CED 08 do Gama têm trabalhado juntos para combater o racismo estrutural e institucional, dando protagonismo a jovens artistas negros. "É no chão da escola que a mudança começa", afirma Valdeci Moreira, que vê no teatro uma ferramenta de transformação social.
Os atores e atrizes, muitos em sua primeira experiência cênica, trouxeram performances carregadas de verdade e emoção. A encenação misturou elementos ritualísticos, música e movimento, criando um diálogo profundo com tradições afro-brasileiras. O título "Corpo Fechado" não é por acaso: refere-se à ideia de proteção espiritual e física, mas também à necessidade de fechar o corpo contra as violências do racismo.
A Plateia Como Parte do Ritual
Quem esteve no teatro no último sábado (ou domingo) pôde sentir a energia coletiva que tomou o espaço. A plateia, diversa e emocionada, reagiu com aplausos e reconhecimento às cenas que retratavam desde a discriminação velada até a afirmação orgulhosa da identidade negra. Ao final, muitos espectadores destacaram a importância de levar a peça para outras escolas e comunidades.
"É um espetáculo que não apenas fala sobre resistência, mas que é resistência", comentou uma professora presente na sessão. "Ver esses jovens no palco, contando suas próprias histórias, é ver o futuro que a gente precisa construir."
Próximos Passos
A Cia. Semente já planeja novas temporadas e debates em torno da peça, reforçando seu compromisso com a arte como instrumento de luta e educação. Enquanto isso, "Corpo Fechado" deixa sua marca: uma reza encenada, um feitiço contra o racismo, um chamado para que a juventude negra ocupe todos os espaços — inclusive os palcos. Com produção da Kitanda Cultura de Terreiro, em 2024, estreou no mês de junho, o espetáculo impactando um público com cerca de 2.300 pessoas. Circulou com apresentações em 04 escolas públicas, no Espaço Semente e no Teatro dos Bancários, totalizando 22 sessões. O PROJETO ONIBODÊ está presente na cobertura deste espetáculo, Ògan Assogbá Luiz Alves há mais de 10 anos vem acompanhando e registrando os projetos da CIA SEMENTE DE TEATRO DO GAMA.
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