Por Ògan Assogbá Luiz Alves PROJETO ONÍBODÊ
Em meio ao som dos atabaques que ecoam nos terreiros de Brasília e Territórios, nasce mais um Iyawo no Ilê Odé Erinlé em Águas Lindas de Goiás. Mas este não é apenas um ritual de iniciação – é um grito de resistência, uma celebração da Ancestralidade e um ato político que desafia séculos de opressão. Para Ògan Assogbá Luiz Alves, fotógrafo que há mais de 35 anos dedica sua lente à documentação da comunidade afro-religiosa e sendo na capital brasileira o primeiro fotógrafo a dedicar um trabalho autoral para a Comunidade Afro Religiosa de Brasília e Entorno, cada saída de Iyawo representa muito mais do que uma tradição religiosa: é a prova de que "ainda estamos aqui".
"A cada Iyawo que nasce, vejo a continuidade de uma história que tentam apagar", reflete Ògan Assogbá Luiz Alves. "É a resistência em sua forma mais pura. Apesar de todo o racismo religioso, das perseguições e do preconceito, nossa cultura sobrevive e floresce."
O nascimento de um Iyawo é antes de tudo um ato de coragem. Ele carrega consigo a herança dos Tambores de Palmares, que guiaram revoltas escravas e as vozes Ancestrais que ensinaram ao mundo ciência, filosofia e arte. É também um desafio direto àqueles que insistem em negar essa riqueza cultural, tentando reduzir os descendentes africanos a estereótipos ou mesmo apagar suas contribuições para a humanidade
No Brasil, país que ainda convive com formas explícitas de racismo religioso, ser afro-religioso é, por si só, um ato de enfrentamento. Nos últimos anos, o cenário político exacerbou essas tensões, dando voz a discursos de ódio que incentivaram ataques a terreiros e práticas discriminatórias. No entanto, como lembra Ògan Assogbá Luiz Alves, "nossos atabaques continuam a soar alto, nossos Orixás seguem firmes, e temos Esú abrindo caminhos e Ogun liderando nossas batalhas".
Cada saída de Iyawo é uma oportunidade de reafirmar essa presença viva e pulsante. Não se trata apenas de uma pessoa iniciada, mas de toda uma Ancestralidade milenar que ressurge através dela. "Somos descendentes de reis, rainhas e guerreiros". "Nossa história não começou com a escravidão. Somos herdeiros de civilizações que deram ao mundo pirâmides, matemática, astronomia e saberes que moldaram culturas. Quando vejo um Iyawo, vejo essa força Ancestral renascendo."
Para quem observa de fora, pode parecer apenas uma cerimônia religiosa. Mas para quem vive essa experiência, é muito mais: é a certeza de que, apesar de todas as adversidades, a cultura afro-religiosa segue viva, resistente e transformadora. E enquanto houver um Iyáwo sendo iniciado, haverá esperança de continuidade – porque, como sempre disse Ògan Assogbá Luiz Alves: "o Iyawo pode até ser novo, mas a Ancestralidade que ele carrega é milenar".
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