sábado, 16 de agosto de 2025

O NASCER DE UMA CASA DE AXÉ!


Por: Ògan Assogbá Luiz Alves 

 Hoje, sob o manto sagrado de Obalwayê — meu Pai, meu Guardião, meu Norte — brota do chão de Águas Lindas de Goiás uma nova raiz de axé, de memória, de coragem: nasce a Casa de Angola ManzoDisenza – Casa do Renascimento, sob a sabedoria e a força de Tata N'Sunbumonam.



Não é apenas o batismo de um terreiro. É o grito silencioso de um povo que insiste em existir, em florescer onde querem nos ver secar. É a resposta do Sagrado àqueles que sonham com nosso apagamento: aqui estamos, de pé, de cabeça erguida, com os pés na terra e as mãos nos orixás, inkices e mpungos os.







Os trabalhos foram conduzidos com maestria por Tata N'Gunzetala, com o apoio sagrado e amoroso de diversos filhos e filhas de sua casa, que vieram de longe não apenas para prestigiar, mas para mão na terra, coração no peito, ajudar no nascimento deste novo Abassá. Cada gesto, cada canto, cada toque de cabaça foi um ato de devoção, de continuidade, de reafirmação: a tradição vive, porque nós a carregamos.




Cada pedra, cada planta, cada canto dessa casa carrega o peso da história e a leveza da esperança. É resistência. É reexistência. É política vestida de saia de balanço, de batuque, de oferenda ao vento. É o povo preto, negro, afrodescendente dizendo: não fomos destruídos. Renascemos. E vamos seguir renascendo.

Como fotógrafo, como testemunha, como filho dessa luta e dessa fé, sinto o peito arder de orgulho. Porque não importa a nação, não importa o canto — o nascimento de uma casa é sempre um milagre. É o axé dizendo: ainda há caminho. Ainda há raiz. Ainda há futuro.





Parabéns, Tata N'Sunbumonam! Que ManzoDisenza seja farol, acolhimento, fortaleza. Que cada dia nesta Casa do Renascimento seja um ato de coragem, um canto de liberdade, um passo firme na jornada de quem nunca parou de lutar.


E a vocês, Tata N'Gunzetala e todos os filhos que vieram com as mãos abertas e o espírito forte: vocês são a ponte entre o passado que não se esquece e o futuro que se constrói!

O sagrado resiste. O povo resiste. E nós, sempre, renascemos.

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

*APOIE, DIVULGUE E INCENTIVE O ONÍBODÊ (O PORTEIRO) por uma comunicação ANTI-FACISTA, ANTI-RACISTA e de apoio à Nossa Comunidade Negra e Afro Religiosa com doações a partir de R$25,00 (vinte e cinco reais)*

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segunda-feira, 11 de agosto de 2025

Quitanda Cultura e Saberes: Um Ato de Resistência, Afeto e Alegria na Casa Luz de Yorimá

 

Por: Ògan Assogbá Luiz Alves

Brasília, DF — No último sábado, o vento que soprou entre as árvores da Casa Luz de Yorimá trouxe mais do que folhas dançantes: trouxe promessa. A abertura do Projeto Quitanda Cultura e Saberes, conduzida pela sábia e acolhedora Mãe Leila, foi muito mais do que um evento — foi um abraço coletivo, um "aquece coração” em tempos de frio espiritual e distanciamento.

Localizada no 905 Norte, em pleno coração de Brasília, a Casa Luz de Yorimá, terreiro de Umbanda Iniciática, transformou-se, naquela tarde, em território de resistência, memória e celebração. O sol ainda quente beijava os rostos enquanto os primeiros passos marcavam a chegada de pessoas vindas de todas as direções — crianças, jovens, idosos, mães de santo, artistas, ativistas, curiosos e devotos. Todos unidos por um mesmo sentimento: o desejo de pertencer.

A abertura do projeto foi conduzida com a delicadeza que só Mãe Leila sabe imprimir. Sem cerimônia, mas com muita solenidade simbólica, ela acolheu cada visitante como se fosse um filho que volta para casa. “Aqui, a porta é aberta, o coração é grande e o axé é livre”, disse, entre sorrisos e abraços que pareciam curar feridas invisíveis.

Após um delicioso lanche — com quitandas feitas à mão, sabor de memória, bolo de milho, bolos de aipim, pães de queijo e sucos naturais —, o salão social do terreiro foi tomado pela magia do samba. E não foi qualquer magia: foi a magia do povo. Do nada, como se brotasse da própria terra, surgiram pandeiros, surdos, tamborins e agogôs. E então, a música tomou conta. Corpos se levantaram, pés batiam no chão, vozes se entrelaçavam em coro. O samba não apenas ecoou — ele encantou, ele libertou, ele reafirmou.

Foi nesse clima de alegria contagiante que foi apresentada a programação do Quitanda Cultura e Saberes, projeto que promete se tornar um marco na cena cultural afro-brasileira da capital federal.

Uma programação que alimenta a alma

A cada encontro, uma nova surpresa. O projeto se desdobra em uma série de atividades que misturam arte, ancestralidade, reflexão e convivência:



- Exposição e Oficina Fotográfica que revelam olhares potentes sobre a cultura afro-brasileira, mostrando rostos, histórias e resistências que muitas vezes são invisibilizados;

- Sessões de cinema para refletir, se emocionar e se conectar com narrativas que vêm do povo, da raiz, do sagrado;

- Apresentações culturais com jongo, coco de roda, samba de roda, bate-pé e rimas que ecoam a força da palavra ancestral;

- Oficinas que entrelaçam saberes tradicionais — como trança, culinária afro, artesanato e rituais — com experiências contemporâneas;

- Rodas de conversa para escutar, compartilhar e construir pontes entre gerações, religiões e saberes.

Tudo isso com entrada gratuita, porque, como diz Mãe Leila, “a cultura não tem preço — tem valor. E o valor dela é a vida que ela salva”.




Um projeto de raiz, feito com o corpo do povo

O nome “Quitanda” não é escolha à toa. Remete às pequenas vendas de rua, muitas delas mantidas por mulheres negras, que, além de vender quitandas, vendiam cuidado, conversa, conselho, remédio, proteção. A quitanda era — e ainda é — um ponto de encontro, de resistência, de economia popular e afetiva. É esse espírito que o projeto busca resgatar: o de um espaço onde se come, se canta, se cura, se educa, se resiste.

A Casa Luz de Yorimá, sob a direção espiritual e cultural de Mãe Leila, tem se consolidado como um dos mais importantes centros de preservação da religiosidade afro-brasileira no Distrito Federal. Mas vai além: é um espaço de acolhimento, de formação, de arte e de luta. E o Quitanda Cultura e Saberes é mais um passo nessa trajetória de afirmação identitária.

A convocação é para todos

O convite está feito. O chamado é claro: *vem somar*. Vem com sua história, com seu silêncio, com sua dor, com sua alegria. Vem dançar, pensar, comer, rezar, rir. Vem ser parte dessa travessia cheia de afeto e resistência.


As datas dos próximos encontros estão sendo divulgadas com carinho no Instagram [@luzdeyorima](https://www.instagram.com/luzdeyorima), onde cada post é um convite, cada imagem é um axé.


Porque, no fim das contas, o Projeto Quitanda Cultura e Saberes não é apenas um evento. É um movimento. É um lembrete: nossa cultura é viva, nossa tradição é forte, e nosso lugar é aqui.

Casa Luz de Yorimá  

905 Norte, Brasília – DF  

Entrada gratuita  

Siga: [@luzdeyorima](https://www.instagram.com/luzdeyorima)  

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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sexta-feira, 8 de agosto de 2025

OLUBAJÉ FOTOGRÁFICO – O BANQUETE DO REI SERVIDO EM IMAGENS

 

Por Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

"O Sr. da Terra, Omolú, reina soberano em agosto. Mês de colheita, de memória, de retorno ao sagrado solo que nos nutre e nos acolhe no fim da jornada. Agosto é o mês em que a Terra respira em nós, e nós respiramos nela. E, como se não bastasse tanta grandeza, agosto também é o mês da fotografia – arte que congela o tempo, que transforma instantes em eternidade, assim como o próprio Omolú, senhor dos ciclos, da vida e da morte, da transformação que nunca cessa."  

E eu, filho de Obalwaiyê, mergulhado nesse fluxo sagrado, me encontro vivendo um verdadeiro Olubajé Fotográfico. Quatro exposições em um só mês, cada uma delas um prato servido no banquete do Rei, cada imagem uma oferenda de luz e memória.  

Começou na Estação Central de Ceilândia, como parte do Projeto Latinidades de Jaqueline Fernandes, onde minhas fotografias dialogaram com a resistência e a beleza negra. Depois, no Museu Nacional da República, integrando o Festival Mês da Fotografia do Lente Cultural e curadoria de Luazi Luango, ao lado do afrofuturismo sonoro do Tardezinha do Samba de Marcelo Café. Em seguida, o Projeto Saberes da Casa Luz de Yorumá, da querida Mãe Leila (905 Norte), onde arte e espiritualidade se entrelaçaram em narrativas visuais. E, para fechar com axé, o Projeto Tardezinha do Samba na Casa do Cantador (Ceilândia), celebrando a cultura popular em sua essência mais pulsante.  

Mas o que é um Olubajé Fotográfico, senão a própria magia de traduzir o sagrado em imagens?  

Pensem comigo:  

- A folha de mamona, onde se serve o Olubajé, é a câmera fotográfica – o receptáculo que guarda os elementos tecnológicos para capturar o instante.  

- O deburú (pipoca) é o ISO – a sensibilidade diante da luz, assim como a pipoca estoura no fogo, revelando sua essência.  

- O feijão preto é a composição – porque, assim como tudo fica completo com um feijão preto, uma foto ganha vida com uma composição bem planejada.  

- O andê (paçoca de milho) é a velocidade – a energia que move, que transforma o milho em farinha, o momento em registro.  

- O acaçá é o resultado final – a imagem pronta, sagrada, ofertada.  

- O clique da câmera é o som dos atabaques tocando "Aê, Olubajé! Olubajé, ajé unbó!" – o momento em que a magia acontece.  

- As poses são os movimentos do Opánijé – a dança, a expressão, a vida capturada em gestos.  

E no centro de tudo, o Sr. cujo rosto brilha mais que o sol – Omolú, o dono da terra, é o flash e a luz ambiente, iluminando cada cena, cada história, cada fragmento desse universo maravilhoso que é a cultura afro-brasileira.  



Que este mês de agosto nos lembre: somos terra, somos memória, somos luz. E, através da fotografia, eternizamos não apenas imagens, mas o próprio axé que nos move.  


"Que Omolú nos cubra com Suas Palhas Sagradas, que nossas lentes jamais percam a sensibilidade diante do sagrado, e que cada clique seja um louvor à vida, à ancestralidade e à beleza que resiste."  

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Àṣẹ Ô!

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sexta-feira, 1 de agosto de 2025

Celebrando a Força Feminina Afro-Brasileira em Ceilândia: Um Julho das Pretas Inesquecível na Casa Akotirene

Por Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Ceilândia foi palco ontem de um evento memorável que, inserido nas celebrações do Julho das Pretas, reafirmou a potência e a resiliência das mulheres afro-brasileiras. A CASA AKOTIRENE, um espaço de fundamental importância para a cultura e religiosidade afro-brasileira no Distrito Federal, abriu suas portas para uma noite de celebração, reflexão e empoderamento.

O evento, que reuniu um público engajado e diverso, foi um verdadeiro cadinho de expressões culturais e saberes ancestrais. A presença de importantes lideranças afro-religiosas pontuou a noite com a força da espiritualidade e da tradição, evidenciando o papel central dessas mulheres na manutenção e difusão das raízes africanas em solo brasileiro, principalmente as mulheres das Comunidades de Axé, que a cada dia vem mostrando sua disposição na luta em defesa do Axé. O que não poderia ser diferente já que as Religiões de Matrizes Africana e de Povos Tradicionais Brasileiros são de origem matriarcal. Outro momento especial foi também podermos comemorarmos o aniversário de Marques - Coordenadora Geral da Casa Akotirene, com Martinha do Côco cantando um parabéns a você muito especial e carregado de Axé!


A poesia, em suas diversas formas, ecoou pelos ambientes da Casa Akotirene, trazendo à tona a beleza e a resistência da palavra falada e cantada. Poetas talentosas, com suas rimas e versos, teceram narrativas que celebravam a identidade negra, denunciavam as injustiças e inspiravam a continuidade da luta por um mundo mais equitativo.




As apresentações culturais, vibrantes e cheias de axé, ressaltaram a riqueza da cultura afro-brasileira, com a dança e o canto se entrelaçando em uma explosão de cores e ritmos. O ponto alto da noite foi, sem dúvida, o show contagiante de Martinha do Côco e Banda. Com sua energia singular e a cadência inconfundível do côco, Martinha fez a todos dançarem e celebrarem a alegria de ser e existir.






Um momento de grande relevância foi a exibição do curta-metragem "Mulheres de Axé". A produção audiovisual, que aborda a trajetória e a força de mulheres no universo afro-religioso, serviu como um poderoso catalisador para a roda de debates que se seguiu. Nela, mulheres que são referências não apenas na comunidade afro-religiosa, mas também na comunidade LGBTQIA+, compartilharam suas experiências, desafios e conquistas.

A roda de debates foi um espaço de escuta ativa e diálogo construtivo, onde as participantes puderam expressar as nuances de suas vivências. A interseccionalidade das lutas foi um tema central, reforçando a importância de se debater e apoiar as mulheres, especialmente aquelas que transitam pelos espaços da comunidade LGBTQIA+. As falas ressaltaram a batalha contínua por visibilidade, respeito e a garantia de direitos que muitas vezes são negados.











O evento na Casa Akotirene, no contexto do Julho das Pretas, não foi apenas uma celebração, mas um manifesto. Um manifesto que fortalece a luta das mulheres, em especial aquelas que, com sua arte, sua fé e sua voz, estão na linha de frente da garantia e preservação de seus direitos. Uma noite que demonstrou, mais uma vez, a resiliência, a beleza e a inquebrantável força da mulher afro-brasileira.






Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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