quinta-feira, 13 de novembro de 2025

Ministério da Saúde promove seminário histórico com liderança religiosa afro-brasileira para fortalecer cuidado intercultural no Programa Mais Médicos


Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

Na última quarta-feira, 12 de novembro de 2025, o Ministério da Saúde realizou um seminário histórico  e inédito em sua abrangência  voltado à formação intercultural de 26 mil médicos do Programa Mais Médicos, com foco especial na região Centro-Oeste. O evento, que aconteceu das 9h às 17h, teve como tema central o “Fortalecimento das Práticas de Cuidado Intercultural para Médicos do Programa Mais Médicos” e contou com uma palestra marcante da Mãe Baiana de Oyá, liderança religiosa reconhecida e coordenadora da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO) no Distrito Federal e Centro-Oeste.

A iniciativa, conduzida pela Coordenação-Geral de Apoio à Gestão Descentralizada (CGAPP/DEGEPS/SGTES/MS), representa um avanço significativo na política de saúde pública brasileira, ao reconhecer que o cuidado integral pressupõe o respeito às tradições, saberes e modos de vida dos povos originários e comunidades tradicionais  entre elas, as comunidades de terreiro de matriz africana.

Sabedoria ancestral em diálogo com a medicina contemporânea

Em sua fala, Mãe Baiana de Oyá compartilhou experiências vividas ao longo de décadas dentro dos terreiros, destacando a importância de um olhar sensível e respeitoso por parte dos profissionais de saúde ao atenderem pessoas que vivem sob referenciais culturais e espirituais afro-brasileiros. Ela chamou atenção para três eixos fundamentais:

  1. O respeito aos modos tradicionais de viver e se alimentar, muitas vezes incompreendidos ou desvalorizados pela biomedicina hegemônica;
  2. A centralidade das plantas medicinais e ervas sagradas, trazidas pelos antepassados africanos como ferramentas de cuidado primário e prevenção  prática ancestral já consolidada antes mesmo da chegada da medicina ocidental ao território brasileiro;
  3. A necessidade de escuta qualificada e acolhimento das vivências religiosas, evitando julgamentos que podem gerar evasão ao sistema de saúde ou adoção de condutas inadequadas.

“Nossos ancestrais já cuidavam da saúde com chás, banhos de folhas, dietas rituais e sabedoria transmitida oralmente de geração em geração. Isso não é ‘crença’, é conhecimento acumulado  e merece ser ouvido, respeitado e, quando possível, integrado num cuidado colaborativo”, afirmou Mãe Baiana, sob aplausos dos profissionais presentes.

Parceria estratégica com a RENAFRO

O seminário contou com a parceria da RENAFRO - Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde, organização que desde 2005 atua na interface entre saúde pública e direitos humanos, promovendo o diálogo intercultural e o combate ao racismo religioso no acesso à saúde. A presença da Rede reforçou o compromisso do Estado brasileiro com a Lei nº 13.709/2018, que instituiu a Política Nacional de Saúde Integral das Populações do Campo, da Floresta e das Águas, e com o Decreto nº 9.095/2017, que regulamentou a Estratégia Nacional de Saúde da População Negra  ambos reconhecendo os terreiros como espaços de promoção da saúde.

Mãe Baiana foi convidada especialmente pela coordenadora-geral da CGAPP, Thaís Maranhão de Sá Carvalho, cuja iniciativa sinaliza um novo momento na gestão do SUS: o de incorporação efetiva da diversidade étnico-racial como componente estruturante das políticas de saúde.

Um SUS mais humano, acolhedor e para todos

De acordo com o Ministério da Saúde, o objetivo do seminário vai além da capacitação técnica: é construir “um cuidado que respeite a integralidade do sujeito em sua dimensão cultural, espiritual e social”. A pasta reforça que a Atenção Primária só será verdadeiramente resolutiva quando os profissionais forem capazes de enxergar e valorizar  os múltiplos saberes que compõem a identidade brasileira.

Para Mãe Baiana, o evento foi “um marco de resistência e de esperança”. “Quando o Estado nos chama não para falar sobre nós, mas conosco, é sinal de que os ventos estão mudando. Oxalá esse vento seja forte o suficiente para desmontar preconceitos e construir pontes”, concluiu.

Agora, a expectativa é que os ensinamentos compartilhados sejam replicados nos territórios e incorporados à rotina dos profissionais, garantindo que o SUS cumpra, de fato, seu princípio constitucional: saúde como direito de todas e todos  sem exceção, e com respeito à ancestralidade que nos constitui.

Com informações do Ministério da Saúde e da RENAFRO

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

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domingo, 9 de novembro de 2025

Brasília celebra a força da negritude: Clube Social Negro completa 1 ano com festa, resistência e esperança

Por:Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ


No coração da capital federal, onde a política muitas vezes se sobrepõe à vida comunitária, nasceu há um ano um movimento de reencontro, afirmação e resistência: o Clube Social Negro de Brasília (CSN). Neste sábado (8), centenas de pessoas se reuniram no Pardim Beira Lago, no Minas Tênis Clube, em um evento que marcou não apenas uma data no calendário, mas um marco histórico na organização da comunidade negra brasiliense.


A celebração do primeiro aniversário do CSN foi muito mais que uma festa de aniversário foi um ato de existência plena: corpos negros em movimento, vozes potentes em roda, saberes ancestrais em diálogo com o contemporâneo e, sobretudo, a alegria como ferramenta política e espiritual de resistência.

Um sonho coletivo, uma conquista comunitária


Fundado por um grupo de cerca de 50 profissionais negros de diversas áreas professores, comunicadores, servidores públicos, artistas, pesquisadores e ativistas, o CSN surgiu da necessidade urgente de criar espaços de convivência que fossem, ao mesmo tempo, lugares de acolhimento, reflexão e ação. Em uma cidade marcada pela desigualdade racial e pela fragmentação social, o Clube assumiu o desafio de tecer redes de pertencimento, promovendo encontros que vão do lazer à formação política.


Sob a liderança do presidente Heitor Perpétuo e Caína Castanha, uma  arquiteta da construção cotidiana do Clube, o CSN firmou-se como referência na capital. “Não queríamos só um clube social no sentido tradicional. Queríamos um terreiro urbano, um espaço onde a gente pudesse respirar, pensar, criar e dançar juntos  e, ao fazê-lo, afirmar nossa humanidade plena”, 


A festa como ritual de celebração e fortalecimento


A festa de aniversário, organizada com maestria pela Kitanda, liderada por Tata Luazi Luango uma das vozes mais respeitadas na preservação das tradições banto-kongo em Brasília , foi uma verdadeira manifestação de cultura viva.


O cenário: o gramado à beira do Lago Paranoá, sob um sol generoso e céu azul profundo, remetia aos encontros tradicionais das comunidades negras urbanas, onde o espaço público é ressignificado como território de pertencimento.


A programação foi uma amostra da riqueza que o CSN representa:


- Roda de samba com vozes que honram os mestres do passado e inventam o futuro: Gija Barbieri, Pati Barcellos, Arthur Bartholo e Marcelo Santos levaram o público a cantar, sambar e refletir em versos que falavam de amor, luta, memória e esperança.  

- A participação especial de Marcelo Café, um dos nomes mais reverenciados da música negra de Brasília, emocionou a todos com sua voz e sua trajetória de resistência artística.  

- DJ Afrika animou a tarde com um set que viajou da soul music aos clássicos do funk consciente e do samba-rock, conectando gerações em batidas ancestrais.  

- A Feira Criativa reuniu empreendedores negros locais, expondo moda afro, literatura, cosméticos naturais e artesanato com raízes na estética negra.  

- O bingo com premiação simbólica e afetiva: uma tela do renomado artista plástico Ronaldo Ferreira, cuja obra é conhecida por retratar com vigor e poesia a beleza e a complexidade da experiência negra brasileira.


O futuro é coletivo e negro


O Clube Social Negro de Brasília já provou que veio para ficar. E, como diz o provérbio iorubá:  

 “Ọmọlúàbí kò gb’ẹ̀sìn; ẹni tí ó bá rí, ó máa rí.”  

 (O ser humano de caráter não se perde; quem o encontra, sempre o reencontrará.)


Que venham os próximos 10, 20, 50 anos — sempre com música, memória, luta e muita alegria.


Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

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Batalha de Conhecimento: Rap, Ancestralidade e Resistência Feminina no Terreiro Casa Luz de Yorimá

Por: Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ

 
BRASÍLIA, 09/11/2025 – Em uma noite de sábado que harmonizou tradição e contemporaneidade, o Terreiro Casa Luz de Yorimá, na 509 Norte, foi palco de um evento histórico: a "Batalha de Conhecimento". Mais do que uma simples disputa de rimas, o encontro foi um ato político, cultural e espiritual, reunindo mulheres para reafirmar seu espaço de fala e poder dentro da cena do rap. O evento, realizado no dia 08 de novembro, teve a força ancestral das quitandeiras como tema central, criando um fio condutor entre o passado de luta e o presente de resistência.


Sob a organização da FUGAZZI, integrante do Coletivo ELAS NO MIC, a batalha trouxe para o centro do palco – ou melhor, para o centro do terreiro – algumas das vozes femininas mais potentes do rap do Distrito Federal e Entorno. O evento integra o PROJETO QUITANDA CULTURA E SABERES, uma iniciativa que, como o nome sugere, vai além do entretenimento, semeando conhecimento e colhendo saberes.

O tema "QUITANDA" foi escolhido com profundo significado. Longe de ser um mote qualquer, serviu como uma homenagem direta às mulheres negras quitandeiras que, durante o período escravocrata, transformaram a venda de produtos em uma estratégia de sobrevivência, sustento familiar e, crucialmente, na possibilidade concreta de comprar alforrias para seus entes queridos. Essas mulheres, com seus tabuleiros e cestos, foram as primeiras empreendedoras e gestoras de suas próprias vidas e destinos em um sistema designado para aniquilá-las.





Ao transportar essa simbologia para as rimas, as MCs resgataram essa narrativa de autonomia e resiliência. Os versos ecoaram a força dessas antepassadas, traçando paralelos entre a luta pela liberdade no passado e as batalhas contemporâneas por equidade de gênero, respeito e visibilidade dentro do hip-hop e da sociedade. A quitanda, então, se tornou uma metáfora poderosa para o comércio de ideias, a sementeira da palavra consciente e o sustento da cultura de resistência.

A localização do evento não foi aleatória. Ao trazer o Coletivo ELAS NO MIC para um terreiro de Umbanda no coração do Plano Piloto, Mãe Leila - Auracyara, idealizadora do Projeto Quitanda, enviou uma mensagem clara sobre a quebra de barreiras socioculturais. Em suas palavras, que ecoam como um princípio: "NOSSO PROJETO ROMPE MUROS INVISÍVEIS QUE EXISTEM ENTRE O CENTRO E A PERIFERIA."



Esta afirmação é fundamental. Ela desafia a geografia simbólica de Brasília, promovendo um diálogo urgente e necessário. O terreiro, espaço sagrado de resistência cultural e religiosa, abraça o rap, expressão artística nascida na periferia, criando um território comum de poder e identidade. É a periferia ocupando e ressignificando o centro, não através da força, mas através da cultura, da fé e do conhecimento.

O COLETIVO ELAS NO MIC cumpre um papel vital nesse ecossistema. Ao fortalecer a presença das mulheres na cultura urbana, o coletivo não apenas amplia a representatividade, mas também diversifica e enriquece a criatividade no rap e em todas as expressões periféricas. Elas não estão apenas ocupando um espaço que lhes foi negado; estão reformulando a própria narrativa do gênero, com suas próprias vozes, suas próprias histórias e sua estética singular.











A "Batalha de Conhecimento" no Terreiro Casa Luz de Yorimá foi, portanto, muito mais que um evento cultural. Foi um ritual moderno de afirmação. Um momento em que o tambor do terreiro encontrou a batida do rap, onde a força dos orixás se fez presente na potência das rimas, e onde o legado das quitandeiras ancestrais foi celebrado como a raiz de uma luta que continua viva, fértil e gerando novos frutos de liberdade.

 






Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

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sexta-feira, 7 de novembro de 2025

O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo”: Exposição na ALEGO revela beleza das religiões de matriz africana — e o ódio que insiste em apagá-las


Por Ògán Assogbá Luiz Alves / PROJETO ONÍBODÊ 

Na tarde dessa sexta-feira (07), sob o sol forte que já aquecia Goiânia e os corredores da Assembleia Legislativa de Goiás (ALEGO), caminhamos eu, Ògán Assogbá Luiz Alves  representando o FOAFRO-DF e o COLETIVO DEFENSORES DO AXÉ, e meu irmão de axé, Ògán Felix Odé Somi  da ATRACACAR-GO com passos firmes e coração aberto rumo à exposição “O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo”. Uma obra viva. Um ato de resistência estética, espiritual e política. Uma coletiva que não apenas mostra, mas convoca: a ver, a sentir, a honrar.

Idealizada pelo COLETIVO ONÃ, com apoio essencial do gabinete do deputado estadual Marco Rubem (PT) e seu Mandato Coletivo, a mostra é uma ode à diversidade religiosa, ao sagrado que pulsa nos atabaques, nas roupas brancas tingidas de sangue ancestral, nos oríkís sussurrados, nas oferendas cuidadosamente dispostas. Lá estão presentes: os panos de assentamento de Orixás, o , as contas de Iansã tremulando ao vento simbólico da instalação, roupas de Nosso Sagrado, utensílios sacros; fotografias que capturam não apenas rostos, mas presenças mães e pais de santo, filhos de santo, ogãs, ekedis, aborôs  todos, cada um, corpo de religião, memória em movimento.

A exposição é, antes de tudo, um ato de reparação simbólica. Num país que por mais de 300 anos criminalizou nossas cerimônias, que transformou templos em esconderijos e línguas em sussurros, “O Olho de Vidro…” diz, com a clareza do vidro e a intensidade do fogo: estamos aqui. Vivemos. Existimos. E somos belos.

Mas, como todo momento de visibilidade é campo de batalha no Brasil racista, a beleza foi atacada.

O deputado estadual amauri ribeiro (União Brasil) sim, escrevo seu nome com todas as letras, mas de forma intencionalmente minúscula, não por descuido gráfico, mas por recusa ética em erguer quem escolhe o ódio como discurso  subiu à tribuna da ALEGO e, com a frieza de quem já ensaiou o preconceito, chamou a exposição de **“demoníaca”**.

Demoníaca?  

Quem criou o demônio foi o cristianismo — como metáfora moral, como instrumento de controle, como arma teológica contra os “outros”. A palavra não existe em yorùbá, nem em kikongo, nem em ewe. Nas culturas de onde brotam nossas religiões, há Ajogun (forças desafiadoras), há Iyámi Òsorongá (poderosas guardiãs da justiça cósmica), há equilíbrio entre luz e sombra — mas não há diabos. Essa noção dualista, maniqueísta, é importação colonial — e sua utilização aqui é pura violência simbólica. É reduzir o sagrado ao medo. É desumanizar o outro para justificar exclusão de quem não pensa igual a sua bolha e também para justificar a sua própria e insignificante existência.


Ele não exerceu “direito de expressão”.  

Ele cometeu crime de racismo religioso  previsto no artigo 20 da Lei nº 7.716/89, que tipifica como crime “praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”.

E pior: ele o fez no exercício do mandato, dentro da Casa que deveria zelar pela Constituição — que, em seu Artigo 5º, incisos VI e VII, garante a liberdade de crença, o direito à proteção dos locais de culto e das liturgias, e proíbe qualquer forma de discriminação.




Nós, afro-religiosos, não somos minoria silenciosa.  

Somos mais de 1,2 milhão de pessoas, segundo o IBGE — e esse número é subestimado, pois muitos ainda se escondem por medo. Somos eleitores. Somos contribuintes. Somos trabalhadores, mães, pais,  professores, artistas, médicos, engenheiros, servidores públicos e também sacerdotes e sacerdotisas de uma tradição milenar que cura, acolhe, educa e resiste.

Não aceitamos mais o “respeito condicional”:  

“Respeito sua religião, mas não quero ver no espaço público”  

“Desde que não façam barulho…” 

“Enquanto não misturarem com política…” 


O que há de mais político que o direito de existir sem medo?


Chamado à Ação Nacional  

Diante dessa ofensa institucional, lançamos aqui um ATO DE RESISTÊNCIA COLETIVA:


1. Denúncia formal junto ao Ministério Público do Estado de Goiás, requerendo apuração por crime de racismo religioso e abuso de autoridade.  

2. Mobilização nacional: pedimos a todas as casas de axé, terreiros, umbandistas, candomblecistas, batuqueiros, xangôs, tambor de mina, juremeiros — e a todas as organizações de direitos humanos — que entrem com representações criminais contra o deputado Amauri Ribeiro por apologia ao racismo religioso.  

3. Petição pública online exigindo abertura de CPI do Racismo Religioso na Assembleia de Goiás — para investigar não apenas esse episódio, mas o padrão de perseguição sistemática contra comunidades tradicionais no estado.  

4. O Olho De Vidro Contra O Racismo: uma campanha nacional nas redes com fotos de terreiros, sacerdotes e devotos segurando um espelho ou vidro, com a frase: “Meu olho te vê. Meu axé te julga. Minha fé não pede licença para existir.”


A exposição “O Olho de Vidro sobre o Sagrado Vivo” permanece aberta até o dia 20 de novembro Dia da Consciência Negra. E não por acaso: é convite para que todos venham, vejam, sintam — e saiam transformados.


Porque não há “demonização” que resista à força de um Ògan cantando ponto de Ogum e uma Ekédjí tocando um adjá,  

Não há discurso de ódio que suporte o brilho de uma coroa de Oxóssi,  

E não há deputado, por mais alto que erga seu chapéu, que possa apagar o fogo sagrado que arde em nossos peitos desde antes da colonização.

Nós somos o sagrado vivo.  

E o sagrado, quando ofendido, responde com justiça, com memória, com axé.


👉 Visite a exposição. Denuncie o racismo. Honre seus ancestrais.  

📍 ALEGO — Goiânia, até 20.11.2025  

✊ Axé é poder. E poder, quando coletivo, é imparável.


Ògán Assogbá Luiz Alves 

Fotojornalista e Fotodocumentarista, Ògán de Odé, integrante da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (Renafro), COLETIVO DEFENSORES DO AXÉ, FORAFRO-DF E HOMENS DE AXÉ DA RENAFRO  

Odé Somi Felix  

ÒgAn de Odé, Vice Presidente e Idealizador da ATRACAR-GO, PROFESSOR, HISTORIADOR, PESQUISADOR e ativista cultural  


Com o respaldo espiritual de todos os Orixás, Voduns, Inkices e Guias — e o apoio político de quem ainda crê que o Brasil pode ser justo.

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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quinta-feira, 6 de novembro de 2025

O Samba que Não se Vende: A Cultura Negra Entre a Resistência e a Apropriação


"Da corrente à batida do pandeiro: a mesma mão que o sistema algemou é a que conduz o ritmo da nossa resistência negra, da criminalização à celebração, sem nunca perder sua essência combativa."


Por: Ògan Assogbá Luiz Alves.

Há uma guerra silenciosa sendo travada nos tambores do samba, nas tranças das passarelas e nos versos do rap. É a guerra pelo significado. De um lado, a resistência, a memória, a alma. Do outro, a apropriação, o esvaziamento, a mercadoria.

No mês da Consciência Negra, é urgente falar sobre isso: a cultura negra não é um produto de prateleira para ser consumido e descartado. Ela é o sangue e o suor de uma história de resistência. E cada vez que um elemento nosso é roubado, pasteurizado e vendido de volta para nós sem a sua essência, uma parte dessa história é apagada.

Pensem no samba. Nascido nos terreiros e quintais das tias baianas e cariocas, criminalizado como "vadiagem" pela polícia do pós-abolição. Era música de preto, de pobre, de malandro. Hoje, é o "produto nacional" mais exportado, a trilha sonora do carnaval na TV Globo. Mas quantos sabem que o partido-alto era um jogo de versos cheio de críticas sociais? Quantos reconhecem no tamborim o eco dos atabaques do candomblé? O samba foi aceito apenas quando sua narrativa de luta foi domesticada, quando a "negritude" perigosa foi substituída pela "brasilidade" cordial.

O mesmo acontece com nossas estéticas. O black power, que nos anos 70 era um símbolo político do Panteras Negras e do Movimento Negro, um grito de "o cabelo é meu, a beleza é minha, a história é minha", hoje é "estilo" em capas de revista. O turbante, que carrega a dignidade e a história de rainhas africanas, vira "tendência de verão" em campanhas publicitárias com modelos brancas. Eles querem o nosso sal, mas não o nosso suor. Querem a nossa estética, mas rejeitam a nossa ética e a nossa dor.

Isso não é "homenagem" ou "valorização". É apropriação cultural. É o ato de sugar a forma e esvaziar o conteúdo. É transformar um símbolo de resistência em um mero acessório, desprovido de seu poder político. É uma forma sutil, porém eficiente, de racismo, porque perpetua a lógica de que o que é preto só tem valor quando passa pela curadoria e pelo aval branco.

Mas a resistência continua, e ela é inteligente. Está no rap de Racionais que educa mais que muito livro didático. Está no congado que mantém viva a coroação de reis e rainhas negros no interior de Minas. Está na jovem que, ao trançar o cabelo, ensina para a filha a história de cada penteado. Está no bloco de afoxé que ocupa a avenida cantando para os Orixás.

Consumir cultura negra, portanto, é um ato político. É buscar a fonte. É ouvir o samba de raiz, comprar das costureiras que fazem o turbante com respeito, seguir os intelectuais e artistas negros que explicam o significado por trás de cada símbolo. É entender que a cultura não é um espetáculo para ser assistido, mas um território a ser defendido.

Nossa cultura não é moda. É memória. Não é entretenimento. É estratégia de sobrevivência. E nós, da comunidade, somos os únicos guardiões da sua chama. Não vamos deixar ninguém apagá-la.

"Que a batida do atabaque e o verso do partido-alto ecoem cada vez mais alto."

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quarta-feira, 5 de novembro de 2025

Por que o Voto Negro é um Ato de Legítima Defesa

Por: Ògan  Assogbá Luiz Alves 

O dia 20 de Novembro não é uma data de luto. É um dia de celebração da resistência de Zumbi, Dandara e todos os guerreiros e guerreiras de Palmares. E o que era Palmares, senão o mais ousado e bem-sucedido projeto político autônomo da história do povo negro no Brasil? Um projeto que foi combatido com toda a violência do Estado porque era, acima de tudo, uma prova viva de que a liberdade e o autogoverno eram possíveis.

A pergunta que ecoa, mais de três séculos depois, é: onde está o nosso Quilombo hoje?

A resposta é incômoda, mas necessária: a luta pelo Quilombo migrou. Ela saiu dos pés dos morros e se instalou nos plenários, nas câmaras municipais, nos gabinetes. A disputa pela liberdade, que antes era travada no campo de batalha com armas de fogo, hoje é travada no campo das ideias, dos orçamentos, das leis e dos votos. E entender a política institucional como herdeira direta da luta quilombola não é uma opção – é uma questão de sobrevivência.

Não se engane: a política é o novo campo de batalha. Quando um parlamentar propõe um projeto que inviabiliza a titulação de terras quilombolas, ele está reeditando o ataque ao Quilombo dos Palmares. Quando um governante corta verba da educação e da saúde nas periferias, majoritariamente negras, ele está assinando uma sentença de morte social. Quando um discurso fascista ganha espaço, pregando a hierarquização de raças e a supressão de direitos, ele está declarando guerra à nossa existência. O fascismo é, e sempre foi, a antítese da liberdade negra.

Nesse contexto, o voto deixa de ser um mero direito cívico. Para a população negra, que constitui a maioria da base da pirâmide social e é a principal vítima da violência de Estado, do desemprego e da precarização, o voto é um ato de legítima defesa coletiva.

Votar não é sobre escolher um salvador da pátria. É sobre elegermos representantes que não negociarão a nossa humanidade. É sobre colocar no poder pessoas que sabem, na pele, o que é ser seguido em uma loja, o que é ter um filho interpelado pela polícia, o que é ver sua religião ser chamada de "coisa do demônio". É sobre garantir que, quando o orçamento for discutido, haja alguém para lembrar que as comunidades carecem de saneamento básico, não de mais balas.

Mas a participação política não pode se esgotar na urna. A mesma energia que organizava os quilombos deve organizar as comunidades hoje. É preciso criar comitês, pressionar candidaturas, cobrar mandatos, ocupar as ruas. O povo de axé, que sabe a força de uma comunidade unida em torno de um propósito, tem a fórmula para a mudança. A política é o terreiro da cidade. E o boletim de urna é o nosso adjá.

Zumbi não lutou para que tivéssemos a liberdade de sermos governados por quem nos oprime. Ele lutou pelo nosso direito de governar a nós mesmos. Honrar essa luta em 2026 significa transformar a consciência negra em ação política negra. Ou seja elegermos o máximo de irmãos e irmãs comprometicos com nossa fé. Significa ocupar os espaços de poder com a mesma coragem com que nossos ancestrais ocuparam o sertão de Alagoas para construir seu reino de liberdade.

O Quilombo é hoje. A luta é nas urnas, nas câmaras e nas ruas. E a nossa arma, por enquanto, ainda é o voto.

Pensem nisso. E ajam.

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