Por: Ògan Assogbá Luiz Alves
Brasília, DF — 19 de setembro de 2025
Sob o som das águas do Lago Paranoá e os ecos sagrados dos atabaques, a Prainha — Praça dos Oríxás, em Brasília, se transformou nesta sexta-feira (19) em território de resistência, celebração e reencontro ancestral. Foi dada a abertura oficial da 5ª edição do São Batuque Festival de Tambores, evento que, desde sua origem como um simples encontro de percussionistas, se consolidou como um dos pilares da afirmação cultural e religiosa negra no Brasil Central.
Com a presença de representantes da Rede Nacional de Religiões Afro-Brasileiras e Saúde (RENAFRO) vindos de estados como Bahia, Rio de Janeiro, Pernambuco, Maranhão, São Paulo, Minas Gerais, Amazonas e Goiás, o evento reafirmou seu caráter nacional e inter-religioso — espaço onde terreiros, comunidades, mestres e mestras da percussão se unem em nome do Axé.
RODAS DE CONVERSA: HOMENS E MULHERES DE AXÉ FORTALECEM LAÇOS E LUTAS
Antes das primeiras batidas dos tambores ecoarem pela orla do Lago Paranoá, o dia foi marcado por profundas rodas de conversa que deram voz e visibilidade às lideranças de gênero dentro das religiões de matriz africana.
A Roda dos Homens de Axé da RENAFRO-DF, conduzida com maestria por Ògan Assogbá Luiz Alves, trouxe à tona reflexões sobre masculinidade sagrada, paternidade nos terreiros, combate à violência e o papel dos homens na luta antirracista e também tocou no delicado tema sobre o Assédio nos Terreiros, Ògan Assogbá Luiz Alves recentemente lançou uma cartilha intitulada "QUEM É DE AXÉ NÃO ASSEDIA!. “Ser homem de Axé é ser guardião, é ser servo, é ser instrumento da justiça dos Orixás. Não há masculinidade sem responsabilidade ancestral”, afirmou Assogbá, emocionando os presentes.
Já a Roda das Mulheres de Axé, coordenada por Mãe Baiana, Coordenadora da RENAFRO Centro-Oeste, foi um espaço de afeto, força e denúncia. Mães, Iyás, Ekedis e filhas-de-santo compartilharam suas trajetórias, falaram sobre os desafios de liderar em um mundo patriarcal e reafirmaram o poder da mulher negra como pilar estruturante dos terreiros. “Nós paramos guerras, curamos feridas, erguemos comunidades. Nosso Axé não pede licença — ele chega e transforma”, declarou Mãe Baiana, arrancando aplausos e gritos de “Axé!” da plateia.
LANÇAMENTO HISTÓRICO: JOVENS DE AXÉ DA RENAFRO
Um dos momentos mais emocionantes da abertura foi a apresentação oficial da nova organização dos Jovens de Axé da RENAFRO. Com roupas brancas, olhos brilhantes e atabaques nas mãos, a nova geração assumiu o compromisso com o futuro do Axé
Diante de Babás, Mães, Ògans e Ekedis, os jovens anunciaram sua missão: preservar os saberes ancestrais, inovar sem trair a tradição, e ocupar todos os espaços — dos terreiros às universidades, das ruas às políticas públicas. “Não somos o amanhã. Somos o AGORA. E estamos prontos para carregar o tambor com a mesma força com que nossos avós carregaram”, afirmou uma das jovens lideranças, diante de uma plateia emocionada.
PRESENÇAS ILUSTRES: BABÁ DIBA E MÃE BAIANA CONSOLIDAM UNIDADE
A abertura contou ainda com as falas de peso de duas das maiores lideranças nacionais da RENAFRO: Babá Diba, Coordenador Nacional dos Homens de Axé, e Mãe Baiana, além de sua atuação nas rodas, como Coordenadora Regional.
Babá Diba, com sua voz grave e serena, lembrou que “o tambor é o coração do povo negro. Quando ele bate, os Orixás dançam, os ancestrais respondem e o racismo treme. O São Batuque é nosso grito de liberdade sonora”.
Mãe Baiana, por sua vez, reforçou o simbolismo de Brasília como palco desse encontro: “Estamos na capital da República para dizer: nossos terreiros são templos, nossas tradições são constitucionais, e nosso povo não se curva. O Axé veio pra ficar — e pra governar.”
O QUE VEM POR AÍ: UM FINAL DE SEMANA DE BATUQUE, ARTE E RESISTÊNCIA
O Show de abertura ficou a cargo do Grupo de Samba Raiz OJÚ OKAN, cuja voz de Mãe Dani emocionou a todos presentes com a nata do samba raiz e samba de terreiro, fazendo com que todos caíssem no samba.
Até domingo (21), a Prainha será palco de encontros de tambores diários, com grupos de percussão de diversos estados do Brasil e oficinas de ritmos, feira de empreendedorismo negro, exposições de arte afro-brasileira e rodas de capoeira.
O São Batuque não é apenas um festival. É um ato de existência negra. É onde o sagrado se faz público, onde o corpo canta o que a boca não alcança, onde cada batida do tambor é um passo na direção da reparação, da memória e da justiça.
A organização e realização do São Batuque é uma iniciativa da Rosa dos Ventos que há anos vem despontando em suas produções culturais com foco na afro religiosidade.
“Quem bate o tambor chama o mundo — e o mundo, desta vez, respondeu.”
Onde o Axé entra e a intolerância não passa
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
*APOIE, DIVULGUE E INCENTIVE O ONÍBODÊ (O PORTEIRO) por uma comunicação ANTI-FACISTA, ANTI-RACISTA e de apoio à Nossa Comunidade Negra e Afro Religiosa com doações a partir de R$25,00 (vinte e cinco reais)*
CLIQUE NO LINK ABAIXO PRA APOIAR
A lente de sua máquina fotográfica registra emoções que não precisam ser ditas.
ResponderExcluirParabéns ❣️