segunda-feira, 14 de julho de 2025

Fogueira de Xangô: Tradição, emoção e ancestralidade na casa de Pai Becker de Oyá em Águas Lindas – GO


Por: Ògan Assogbá Luiz Alves PROJETO ONÍBODÊ 

Em uma noite iluminada pelo brilho das chamas e pela força dos Orixás, a casa de Pai Becker de Oyá, em Águas Lindas de Goiás, tornou-se palco de um momento sagrado e emocionante: a tradicional Fogueira de Xangô. Um evento que reuniu fiéis, amigos, familiares e representantes de diversas casas de Axé para celebrar a força, a justiça e a sabedoria do Senhor dos Trovões e Raios.

Estivemos presentes Eu (Ògan Assogbá Luiz Alves) e Ògan João de Omolú, acompanhando o toque ao lado de Ògan Odé Somi, vice-presidente da ATRACAR-GO (Associação dos Terreiros de Cultura Afro-Religiosa do Estado de Goiás), numa homenagem poderosa ao Rei de Oyó. E posso afirmar com toda certeza: essa foi mais do que uma festa. Foi um ato de resistência, de fé e de continuidade.

A acolhida já mostrava o carinho característico das casas de Axé: na entrada, um delicioso cafezinho quente nos preparava para o encontro espiritual que estava por vir. Em seguida, fomos convidados a entrar no salão onde se iniciaria a roda de Axé — e a energia logo tomou conta de todos os presentes.

Com o som dos atabaques ecoando pelas paredes sagradas, o ambiente foi se aquecendo não apenas com o calor humano, mas com a presença dos Orixás. Chegaram aos poucos outros convidados com seus filhos e filhas de santo, entre eles Pai Ivanildo de Xangô e família, Pai Nino de Oxumarê e tantos outros nomes importantes da comunidade religiosa local. Era visível o prestígio da casa e a alegria coletiva em honrar o grande Orixá da Justiça, do Fogo, da Força e da Sabedoria.

Iyáwos: renovação e esperança

Logo após as saudações iniciais, os atabaques chamaram para o salão os novos iniciados — os Iyáwos. Uma corte composta por uma Osun, um Xangô e um bebê encantador de Odé entrou em cena, trazendo lágrimas de emoção e sorrisos de orgulho. Ver aquela criança, ainda tão pequena, trajada em respeito à ancestralidade, era ver a continuidade da nossa comunidade, a resistência viva da nossa religião.

Após sua primeira saída, os Iyáwos retornaram para aguardar o momento em que seus Orixás anunciariam seus orunkós — os nomes pelos quais passariam a ser reconhecidos dentro da comunidade religiosa. E foi nesse instante que o salão se calou para ouvir o discurso emocionado de Pai Becker de Oyá, que contou um pouco de sua trajetória e das lutas enfrentadas para manter seu Ilê firme, mesmo diante das adversidades.

Ao finalizar sua fala, começou o momento mais aguardado: a apresentação dos padrinhos e a revelação dos orunkós. Cada nome foi entregue com reverência e emoção, mas o ápice veio quando Oyá trouxe o orunkó do bebê de Odé. Famíliares choravam, abraçavam-se, e todos os presentes sentiam o peso simbólico daquela entrega: ali estava o futuro da religião, nas mãos do passado.







Egbomy: 7 anos de promessa cumprida

Depois desse momento tão marcante, foi a vez de um filho da casa ser trago ao salão para dar sua satisfação de 7 anos ao seu Orixá, tornando-se oficialmente um Egbomy — aquele que está pronto para assumir responsabilidades maiores dentro da casa e da comunidade religiosa

A chegada de Xangô e o acendimento da fogueir

Chegamos então ao clímax da noite: a Roda de Xangô. Todos aguardavam ansiosamente a chegada do Rei de Ketu e seus convidados. Quando ele e Oyá enfim adentraram o salão, equilibrando o tacho de fogo sobre a cabeça, dançando com a força e graça que só ele tem, o povo vibrou. Era hora de seguir até o pátio externo para o momento mais simbólico da noite: o acendimento da fogueira.

As labaredas subiram ao céu enquanto pedidos de proteção, justiça e cura também subiam, misturando-se às fagulhas que dançavam no ar frio da noite. Ao redor da fogueira, Xangô e seus convidados dançaram sob o som dos atabaques, num ritual ancestral que, mesmo repetido tantas vezes, nunca perde a força nem a singularidade.

Um momento único, eterno na memória

Essa foi mais do que uma festa. Foi uma celebração de vida, de fé, de raiz. Cada toque dos atabaques, cada paó batido, cada canto entoado foi um grito de resistência diante do preconceito e da intolerância religiosa. É assim que seguimos: elevando nossa religiosidade, nossa Ancestralidade, nossa identidade.


Parabéns a Pai Becker de Oyá pela condução firme e amorosa de seu Ilê. Parabéns a todos que estiveram presentes, seja tocando, cantando, dançando ou apenas vibrando em silêncio. Que Xangô continue nos guiando com sua justiça, seu fogo e sua sabedoria.

E que a próxima fogueira, como todas as anteriores, nos reúna novamente sob o mesmo céu, com o mesmo coração.

SERVIÇO:

Ilê Ase Iji Omo Oyá

End.: Qd 68 casa 26 jd brasilia 2

Contato: 61 993844650

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XangôVive

Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união. 

Axé!

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Um comentário:

  1. Foi um dia mágico na minha vida! Ver essa reportagem volto a viver aquele momento novamente, parabéns pelo excelente trabalho ❤️

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