Por Ògan Assogbá Luiz Alves
Brasília, DF — 17 de setembro de 2025
Axé, povo de santo! Axé, povo da rua, da roça, da favela, da aldeia, da quebrada, do terreiro! Chegou a hora. a V Conferência Nacional de Promoção da Igualdade Racial (V CONAPIR) está aberta, e Brasília — essa cidade planejada por homens brancos, erguida por mãos negras — agora recebe a força ancestral de centenas de delegados e delegadas, representantes de todos os cantos do Brasil, para dizer: chega de racismo estrutural, chegou a hora da justiça reparadora!
De 15 a 19 de setembro de 2025, o Centro de Convenções Ulysses Guimarães se transforma em terreiro político, em espaço sagrado de resistência. Aqui, não se fala apenas em “políticas públicas” — fala-se em sobrevivência, em ancestralidade, em direito sagrado à existência. E nós, povo de axé, estamos na linha de frente.
O QUE É A V CONAPIR?
A CONAPIR é o maior fórum nacional de formulação de políticas públicas de combate ao racismo e promoção da igualdade racial. Criada em 2005, esta é sua quinta edição, e vem carregada de urgência. Dados do IBGE, da SEPPIR e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, em 2025, o Brasil ainda enterrou mais de 70% de jovens negros assassinados — e isso é genocídio. Ainda temos terreiros atacados, mães de santo sem direito à aposentadoria, crianças negras expulsas das escolas por usarem turbantes, e religiões de matriz africana criminalizadas como “charlatanismo”.
A V CONAPIR é o grito coletivo que diz: não aceitamos mais!
PRESENÇA AFRO-RELIGIOSA: O TERREIRO NA POLÍTICA
Pela primeira vez na história das CONAPIRs, a mesa de abertura contou com representantes de todas as nações de matriz africana: Candomblé, Umbanda, Tambor de Mina, Xambá, Terecô, Batuque, e até representantes do Culto de Ifá e dos Babalawos. E não estavam ali como figurantes — estavam como formuladores de propostas.
Uma das principais pautas trazidas pelos delegados afro-religiosos:
✅ Criação do Plano Nacional de Proteção aos Terreiros e Sacerdotes de Matriz Africana — com verba federal, protocolos de segurança e atendimento emergencial em casos de intolerância religiosa.
✅ Inclusão da história das religiões africanas nos currículos escolares, com material didático produzido por mestres e mestras de axé.
✅ Reconhecimento jurídico dos terreiros como espaços de preservação cultural e ambiental, com isenção de impostos e direito à posse da terra sagrada.
✅ Cotas raciais e religiosas em universidades, concursos públicos e órgãos governamentais — porque representatividade salva vidas.
VOZES QUE ECOAM
“Estamos aqui não como suplicantes, mas como herdeiros de reinos que atravessaram o Atlântico. Nossos ancestrais não se curvaram — e nós também não vamos nos curvar.” —
“Se o Estado brasileiro foi construído sobre o racismo, é ele que deve desmontá-lo tijolo por tijolo. E nós vamos cobrar — com oferendas, com atabaques, com leis.
O QUE ESPERAR DOS PRÓXIMOS DIAS?
Até sexta-feira (19), os delegados vão debater e votar centenas de propostas em eixos temáticos: Educação, Saúde, Segurança, Cultura, Trabalho, Meio Ambiente e, claro, Liberdade Religiosa. Tudo será compilado no Documento Final da V CONAPIR, que será entregue ao Presidente da República, ao Congresso Nacional e ao Supremo Tribunal Federal.
Mas atenção: não basta aprovar propostas — é preciso implementá-las. Por isso, os movimentos já articulam uma Jornada Nacional de Lutas Pós-CONAPIR, com atos, ocupações e campanhas de pressão em todos os estados.
Brasília nunca viu tanta ancestralidade junta. E isso é só o começo.
ONÍBODÊ O PORTEIRO — Onde a Palavra é Axé e a Notícia é Sagrada
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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