Por Ògan Assogbá Luiz Alves/PROJETO ONÍBODÊ
No último sábado, o Ilê Oyá Bagan respirou Axé com todas as suas forças. O terreiro localizado em Brasília foi palco de um encontro que uniu tradição, juventude e resistência cultural no coração da capital federal. O evento, carregado de significados espirituais e sociais, mostrou a potência das comunidades de matriz africana como espaços vivos de memória, educação e transformação.
A tarde começou cedo com a energia pulsante dos jovens de Axé da RENAFRO-DF (Rede Nacional de Saúde dos Povos de Terreiro). Reunidos em uma roda de conversa, os participantes discutiram temas fundamentais para a manutenção e revitalização das práticas religiosas e culturais: cuidado, diversidade e acolhimento nas Comunidades de Axé. Num mundo marcado por tantas divisões, o diálogo entre os jovens evidenciou a urgência de construir ambientes onde todos e todas sejam vistos, ouvidos e respeitados na sua plenitude.
Essa roda não foi apenas um espaço de fala, mas também de escuta ancestral. A sabedoria coletiva fluía entre histórias pessoais, desafios enfrentados pelas novas gerações e projetos de futuro ancorados no passado. Os presentes reafirmaram seu papel ativo na preservação das tradições, mas sem medo de inovar e reinventar formas de fazer circular o conhecimento.
Ao cair da noite, o cenário se transformou. A "Noite de Saberes" tomou conta do terreiro com encantarias que aqueceram corpos, almas e o próprio chão sagrado do Ilê Oyá Bagan. Foi nesse clima de reverência e celebração que a roda de conversa contou com a presença iluminada de duas figuras centrais na transmissão oral e simbólica da cultura afro-brasileira: Mãe Baiana, guardiã do saber ancestral nos terreiros, e Mestre Manoelzinho Salustiano, cuja simpatia nordestina ecoa como um canto de resistência e tradição popular.
Mãe Baiana trouxe à tona a importância do zelo pelas raízes — aquele que mantém as casas de Axé firmes diante dos ventos adversos da intolerância e do esquecimento. Já Mestre Manoelzinho, com sua voz cantante e seus causos cheios de sabedoria popular, conectou o sagrado ao cotidiano, lembrando que a cultura é algo vivo, que pulsa nas ruas, nas praças, nas rodas de samba e nos terreiros.
Encerrando a programação, veio o momento mais esperado: a Roda de Amalá, um toque dedicado a Xangô, Senhor do Fogo, da Justiça e da Palavra. Com tambores, cânticos e movimentos precisos, a roda ecoou não só como homenagem ao orixá, mas como manifesto de força, unidade e pertencimento. Cada golpe no chão era uma afirmação de identidade, cada canto era um grito de permanência diante da história que tenta apagar.
O evento foi uma iniciativa do Instituto Rosa dos Ventos, que vem trabalhando incansavelmente pela valorização e preservação da cultura afro-religiosa, entendendo cada casa de Axé como um polo cultural estratégico na disseminação de saberes ancestrais. Longe de ser apenas um encontro, o que aconteceu no Ilê Oyá Bagan foi parte de um movimento maior: o fortalecimento das matrizes africanas como pilares fundamentais da identidade brasileira.
Diante disso tudo, resta claro: o Axé não mora apenas nos rituais, mas também nas conversas, nas danças, nas risadas, nas lágrimas e nos abraços que selam promessas de continuidade. E assim, sob o olhar protetor dos orixás e o calor humano dos presentes, o Ilê Oyá Bagan brilhou como um farol de resistência, memória e futuro.
XangôVive
Que os Orixás nos iluminem – e nos lembrem sempre que a força do nosso povo está na união.
Axé!
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Foi encantadora estar rodas de conversas que encantou todos, ali este novo estilo de juntar povos foi uma grande experiência com muito axé .
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