terça-feira, 13 de maio de 2025

Nigéria e Brasil tecem aliança espiritual e política contra o racismo através do Congresso Mundial dos Orixás

Por Ògan Assogbá Luiz Alves PROJETO ONÍBODÊ

Um encontro ancestral no coração de Osun

O Governo Federal da Nigéria anunciou a criação do Congresso Mundial dos Orixás, um marco histórico que estabelecerá no Estado de Osun, região iorubá, um espaço permanente de diálogo e resistência para povos de terreiro espalhados pelo mundo. A iniciativa, descrita como “uma casa para os filhos de Orixá" se reencontrarem na África”, surge como resposta global ao racismo religioso e à violência contra tradições de matriz africana. A Nigéria, berço da civilização iorubá, reforça assim seu papel como guardiã de uma herança cultural que atravessou o Atlântico durante a diáspora escravista e hoje pulsa em terreiros brasileiros .  

Laços que o tráfico não apagou: a missão de Otunba Ajiboye no Brasil

Na próxima etapa do projeto, o secretário do governo nigeriano, Otunba Ajiboye, desembarcará no Brasil para divulgar o Congresso e fortalecer os vínculos entre os dois países. A visita simboliza uma reconexão política e espiritual, já que o Brasil abriga a maior população afrodescendente fora da África e mantém vivas práticas religiosas como o candomblé, diretamente ligadas às tradições iorubás. 

Ifé, Salvador e Osun: o fio de conta que une continentes

A escolha de Osun como sede não é casual. O estado abriga cidades sagradas como Ilê-Ifé, considerada o “umbigo do mundo” iorubá, onde Oduduwa criou a Terra segundo a mitologia. Essa geografia sagrada ecoa no Brasil: Salvador, palco da II Conferência Mundial da Tradição dos Orixás em 1983 , é hoje um epicentro de resistência cultural. Babalaôs como Ivanir dos Santos, que peregrinou oito vezes à Nigéria, relatam que “a simplicidade dos rituais africanos nos ensina a essência do axé, sem os luxos que às vezes distraem aqui” .  

Religião como antídoto ao epistemicídio

Para líderes religiosos brasileiros, o Congresso é uma oportunidade de reverter séculos de apagamento. “Nos roubaram a ancestralidade, mas não a memória dos orixás”, já dizia Mãe Stella de Oxóssi, ícone do candomblé baiano citada em estudos sobre a luta contra o sincretismo imposto . A iniciativa nigeriana dialoga com políticas locais, como o Plano Nacional de Desenvolvimento Sustentável dos Povos Tradicionais, e reforça a urgência de tratar a intolerância religiosa como violação de direitos humanos — tema levado pela ministra Anielle Franco à ONU em 2024 .  

Desafios e esperanças: o que esperar do Congresso?  

Entre os objetivos do encontro estão:  

1. Criar uma rede global de proteção a terreiros, ameaçados por ataques e legislações discriminatórias;  

2. Fortalecer o turismo religioso entre Brasil e Nigéria, seguindo o exemplo de peregrinações como as de Ivanir dos Santos e Wladimir Valladares ;  

3. Documentar saberes orais, como os Poemas Sagrados de Ifá, patrimônio imaterial que sustenta a cosmovisão iorubá .


#BrasilNigeria: hashtag como ferramenta de luta 

Nas redes sociais, o movimento já ganha força. Sob as hashtags #AfricaBrasil e #Negritude adeptos compartilham fotos de iniciações na Nigéria e celebrações em Ilê Axé Opô Afonjá. “Isso não é só religião: é política de existência”, define o babalaô Wladimir Valladares, para quem “voltar à África é recompor o fio cortado pela escravidão” .  

Para saber mais:  

- Acompanhe a agenda de Otunba Ajiboye no Brasil pelo perfil @casadeoduduwa_no_brasil.  

- Leia sobre a III Conferência Mundial da Tradição dos Orixás em Nova Iorque (1986) .  

- Conheça o Programa Federal de Ações Afirmativas .  

OBS. Fotos: Divulgação 

Esta matéria é dedicada a todos os ekodidés que mantêm viva a chama de Orumilá.

Axé a todos que mantêm viva a chama dos Orixás!

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Um comentário:

  1. Narrativa rica em detalhes e aprendizado. Me sinto lisonjeado em poder desfrutar de matérias tão bem elaboradas e assim me enterando cada vez mais sobre a religião de matriz Africana, Orixás e minha ancestraliedade.

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