segunda-feira, 7 de janeiro de 2008

Pela Reparação CARLOS SANTANA

O Globo Opinião - Página 6



Os movimentos internacionais, como o pró-direitos civis dos EUA e posteriormenteo para a libertação de Mandela, na África do Sul, mostraram que o racismo é umaquestão mundial e nefasta. Evidenciaram também as dificuldades de se tratar dotema no Brasil, talvez pelo fato de ter sido este o último país do mundo aacabar com a escravatura. Em 2001, na Conferência Mundial de Combate ao Racismo,na África do Sul, o mundo falou em reparação. O povo judeu, atingido peloHolocausto, teve reparação, principalmente pelos bancos alemães, que financiaramHitler. Os negros também tiveram seu holocausto, mas nada receberam. NaConferência, constatou-se que o racismo no Brasil é nocivo e impede os negros deascenderem socialmente, por isso definiu-se que haveria reparações.Elas poderiam ser feitas com políticas públicas. Surgiu, então, a política de cotas, no governo Lula, em favor do resgate da dignidade nacional.Políticas baseadas na raça cumprem preceitos constitucionais melhor do queplataformas públicas neutras, incolores e defensivas do ponto de vista racial.Ações afirmativas, como a institucionalização de cotas, são decisivas para aintegração nacional, prosperidade material e sobrevivência humana do nosso país.Para ser considerado desenvolvido, o Brasil precisa incluir a sua populaçãoafro-descendente no sistema educacional e produtivo de forma qualificada. Aescola tem papel importante. É a hora de contar a milenar história africana emostrar a expressiva participação dos negros na construção mundial, não só comomão-de-obra escrava, mas também nas lutas de libertação nacional e na formaçãode amplo patrimônio cultural e intelectual.Basta citar Aleijadinho, Luiza Mahin, Castro Alves, Pedro Amaral, AndréRebouças, Mestre Valentim, Teodoro Sampaio, Chiquinha Gonzaga, Carlos Gomes,Luis Gama, Ernesto Nazareth, Pixinguinha e tantos outros.O Brasil “importou” 4 milhões de africanos durante os quatro séculos de tráficotransatlântico. E, lamentavelmente, ainda não existe nenhum monumento oumemorial aos 44 milhões de vítimas da escravidão.

Carlos Santana é Deputado Federal pelo PT do RJ